Vai acelerar?
Depois da enorme recessão do segundo trimestre de 2014 até o fim de 2016, uma questão importante é a velocidade da recuperação. Recentemente, alguns economistas têm dito que esta é uma das mais lentas retomadas da história econômica brasileira documentada, ou até mesmo “a” mais lenta.
O governo discorda, como explica uma fonte do Executivo. É certo que, nesse tipo de discussão, cada um puxa a brasa para sua sardinha em termos de definições e metodologias. Mas vale a pena entender os argumentos da fonte governista.
O passo inicial é a definição simples de recessão como dois ou mais trimestres seguidos de queda do PIB. Tomando-se as oito recessões anteriores a essa última, identificaram-se os “vales” (isto é, o trimestre em que o PIB foi menor) de cada uma, que ocorreram em diferentes trimestres de 1981, 1983, 1988, 1990, 1995, 2001, 2003 e 2009.
Feito isso, calculou-se o crescimento nos quatro trimestres até o vale (que está incluído) e os quatro trimestres posteriores (que não incluem o vale). O mesmo foi realizado para a recessão de 2014-2016, cujo vale é o último trimestre de 2016. Nesse caso, utilizaram-se dados reais do crescimento até o vale, e a expectativa do mercado para o crescimento posterior (que coincide com 2017, ano para o qual três PIBs trimestrais já são conhecidos).
Foram feitas comparações, entre as diversas recessões, do crescimento da economia no ano (isto é, nos quatro trimestres) posterior ao vale; e da mudança de ritmo entre o ano anterior e o posterior. Um exemplo deste segundo caso: no ano até o quarto trimestre de 1988, vale da recessão, o PIB recuou 0,06%. No ano posterior, cresceu 3,13%. A mudança de ritmo foi de 3,19 pontos porcentuais (pp).
A constatação inicial é que a mudança de ritmo entre antes e depois do vale na recessão de 2014/16 é de 4,44 pp: de -3,47% para +0,97%, bem superior à mudança média de todas as recessões, que foi de 0,30 pp. É verdade que as recessões com quedas profundas até o vale tiveram mudanças de ritmo maiores, mas o ocorrido em 2016 está em linha com o que aconteceu nos dois episódios anteriores deste tipo: 1981 e 1993.
Em termos do crescimento no ano posterior ao vale, a projeção para a recessão de 2014/16, de 0,97%, está abaixo da média de 1,38% das oito recessões anteriores. Mas a diferença não é dramática – esse indicador foi ainda pior em 1981 e 1995, e quase igual em 1990. A saída da recente recessão, por esse critério, não é brilhante, mas tampouco calamitosa.
Outro argumento é o de que os analistas em média erram para menos suas projeções quando há saídas de recessões, pelo apego aos dados do passado recente. Tomando-se as recessões de 2001, 2003 e 2009 (o sistema Focus de coleta de expectativas pelo Banco Central começou a funcionar em 2000), o mercado, em termos medianos, previu que o crescimento no ano pós-vale seria 2,99 pp abaixo do que efetivamente ocorreu.
O problema desse argumento é que o ano pós-vale da última recessão é 2017, e, portanto, o exercício não diz muito sobre 2018. A fonte do governo explica que as projeções trimestrais de PIB do Focus não permitem encadear previsões de períodos de dois anos à frente. Ainda assim, o exercício indicaria que fases pós-recessão são propensas a boas surpresas no crescimento.
Outro fator de animação governista é que a alavancagem das empresas (dívida em relação ao Ebitda, uma medida de lucratividade), depois de ter subido de aproximadamente 2,5 em 2013 para mais de 5 ao fim de 2015, já voltou para perto de 2,5.
O governo considera que é preciso reconstruir reputação em termos de projeções econômicas, depois de todas as previsões fora da realidade na gestão de Dilma. Por isso, está quieto com seus 3% de crescimento para 2018. Mas há em Brasília quem aposte de forma discreta que pode ser significativamente mais do que isso.
Projeções passadas indicam que pode haver boas surpresas no PIB após recessões
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COLUNISTA DO BROADCAST E CONSULTOR DO IBRE/FGV