Morre, aos 85, o escritor Aharon Appelfeld
O escritor israelense e sobrevivente do Holocausto Aharon Appelfeld morreu nesta quinta, 4, aos 85 anos. Ele era uma das principais vozes da literatura hebraica do século 20. Nascido na Romênia antes da ascendência do nazismo, ele perdeu a mãe nos assassinatos em massa durante a Segunda Guerra, e só reencontrou o pai 20 anos depois.
Ele construiu sua sólida carreira nas letras em Israel, escrevendo em hebraico, língua que aprendeu apenas como adolescente. Appelfeld escreveu dezenas de livros e foi traduzido em muitos países, inclusive no Brasil: Expedição ao Inverno (Perspectiva, traduzido por Luis S. Krausz) e Badenheim 1939 (Manole) são alguns dos seus livros publicados por aqui.
Appelfeld escapou dos nazistas em 1942, aos 7 anos, e sobreviveu em uma floresta, adotado por um grupo de criminosos ucranianos. Recolhido posteriormente pelos soviéticos, trabalhou como ajudante de cozinha durante meses para o Exército Vermelho. Em 46, foi para a Palestina quando estava sob mandato britânico. “Ninguém queria órfãos na Europa. O único lugar para o qual se podia ir era a Palestina”, contou, em entrevista à AFP, em 2010.
Seu primeiro livro, Ashan (Fumaça), foi publicado em 1962, e seguiram-se mais de 40 obras. Em sua autobiografia, História de uma Vida (1999), conta como sobreviveu ao Holocausto. Recebeu prêmios em todo o mundo, como o Prêmio Israel em 1983 e o Prêmio Medicis francês, em 2004.
Appelfeld rejeitava o apelido de “escritor do Holocausto”, apesar de ter dado voz aos que não sobreviveram. “Não se pode ser um escritor da morte. A escrita supõe que a pessoa esteja viva”, afirmou.
O escritor americano Philip Roth, seu amigo pessoal, já definiu Appelfeld como “um escritor de uma ficção sem lugar, que fez desse deslocamento e desorientação um tema muito próprio”. Appelfeld deixa a mulher e três filhos.