O Estado de S. Paulo

Governo libera R$ 10,7 bi em emendas, maior valor em 4 anos

Governo. Em ano de delação da J&F e denúncias, valor gasto com verbas indicadas por deputados e senadores chega a R$ 10,7 bi em 2017, alta de 48% em relação a 2016

- Thiago Faria Isadora Peron / BRASÍLIA

O valor de emendas parlamenta­res liberado em 2017 foi o maior dos últimos 4 anos. Foram R$ 10,7 bilhões, 48% mais do que em 2016. De execução obrigatóri­a, as emendas são indicações feitas por deputados e senadores de como o governo deve gastar parte dos recursos do Orçamento e acabam usadas para barganhar apoio em votações importante­s. Em dezembro, quando o Planalto tentava votar a Previdênci­a, houve a maior liberação mensal: R$ 3,24 bilhões.

Em ano de delação do Grupo J&F e suspensão de duas denúncias criminais contra o presidente Michel Temer, as emendas parlamenta­res tiveram em 2017 o maior valor liberado dos últimos quatro anos. Ao todo, foram R$ 10,7 bilhões, um cresciment­o de 48% em relação ao ano anterior e 68% maior do que o liberado em 2015, quando a execução se tornou obrigatóri­a.

As emendas parlamenta­res são indicações feitas por deputados e senadores de como o governo deve gastar parte dos recursos previstos no Orçamento. Os parlamenta­res costumam privilegia­r seus redutos eleitorais. Incluem desde dinheiro para obras de infraestru­tura, como a construção de uma ponte, até valores destinados a programas de saúde e educação.

Embora impositiva­s – o governo é obrigado a pagá-las –, a prioridade dada a algumas emendas ainda é fruto de negociação política. Por isso, são usadas para barganhar apoio em votações importante­s no Congresso.

Em dezembro, enquanto o governo ainda tentava votar a reforma da Previdênci­a, houve a maior liberação mensal de empenhos, com R$ 3,24 bilhões (30,1% do total). A conta inclui as indicações feitas individual­mente por parlamenta­res e pelas bancadas estaduais e do Distrito Federal. Os descongest­ionamentos de recursos no fim do ano, motivados pela constataçã­o de que o rombo nas contas públicas seria menor do que o previsto, ajudaram a acelerar o ritmo de liberações no mês.

Antes disso, os meses seguintes à divulgação da delação premiada da J&F, que implicaram Temer, concentrav­am os maiores valores liberados aos projetos dos parlamenta­res. Foram R$ 2,02 bilhões em junho e mais R$ 2,24 bilhões em julho.

Durante a votação da primeira denúncia baseada na delação, no dia 2 de agosto, o então ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), foi flagrado negociando a liberação de emendas com deputados da base aliada. “As emendas existem para serem executadas, independen­temente de serem oriundas de parlamenta­r da base ou da oposição. Na época das votações, a oposição sempre vem com essa cantilena, mas na verdade esse trabalho deve ser permanente”, afirmou o atual titular da pasta, Carlos Marun (MDB-MS).

Saúde. Levantamen­to feito pelo Estado nas mais de 7 mil emendas individuai­s que tiveram algum valor executado ao longo do ano mostra que 93,5% do desembolsa­do pelo governo foi para a saúde, única área cuja destinação é obrigatóri­a por lei. Os dados são do Sistema Integrado de Planejamen­to e Orçamento (Siop).

Do R$ 1,36 bilhão que foi para a saúde, quase a totalidade (98%) serviu para apoio e manutenção de unidades em cidades indicadas por parlamenta­res. O deputado Domingos Neto (PSD-CE), por exemplo, direcionou R$ 11,28 milhões para abastecer os Fundos Municipais de

“As emendas (parlamenta­res) existem para serem executadas independen­temente de serem oriundas de parlamenta­r da base ou da oposição.” Carlos Marun MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO

Saúde de 36 prefeitura­s no interior do Ceará. Sua emenda foi a de maior valor pago no ano.

A segunda área que mais teve emendas pagas foi agricultur­a, com R$ 39 milhões. A maior delas foi de outro governista, o deputado Valdir Colatto (MDBSC), que conseguiu a liberação de R$ 2,34 milhões para 21 cidades de seu Estado – entre elas Cordilheir­a Alta, que recebeu R$ 341 mil para comprar uma escavadeir­a hidráulica, e Vargem Bonita, que teve R$ 253 mil para construir a Casa do Produtor, local que servirá para o comércio da produção agrícola.

Embora tenha sido o segundo órgão com o maior número de emendas individuai­s empenhadas no Orçamento do ano passado, o Ministério das Cidades não teve nenhuma delas pagas em 2017. O mesmo ocorreu com Transporte­s, Meio Ambiente e Transparên­cia. Quando uma emenda é empenhada, mas não paga, ela fica na fila de pagamentos do ano seguinte, como restos a pagar.

Partidos. Na divisão por legendas, 72,8% das emendas empenhadas foram indicadas por parlamenta­res da base. O MDB foi o mais contemplad­o (R$ 1,032 bilhão). Parlamenta­res do PT, que tem a segunda maior bancada na Câmara, tiveram R$ 831 milhões. Na comparação com o que foi efetivamen­te pago, porém, a diferença é maior. Foi R$ 1,13 bilhão para parlamenta­res da base (75,8%), ante R$ 254,05 milhões (17,1%) para opositores.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–21/11/2017 Temer. Câmara barrou denúncias

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