O Estado de S. Paulo

Venezuela expulsa preso brasileiro

‘Incidente’. Após negociar soltura de Jonatan Moisés Diniz, preso desde o dia 27 em Caracas, Itamaraty diz que o caso está encerrado; família diz que ainda não teve contato com ele, que tomou um avião na capital venezuelan­a com destino a Miami

- / RODRIGO CAVALHEIRO, RENATO VIEIRA, LUIZ RAATZ E CLÁUDIA TREVISAN

A Venezuela expulsou ontem para os EUA o preso brasileiro Jonatan Moisés Diniz. Para o chanceler Aloysio Nunes Ferreira, a decisão “encerra” o caso.

O governo da Venezuela expulsou ontem para os Estados Unidos o brasileiro Jonatan Moisés Diniz, detido em Caracas desde o dia 27 de dezembro, acusado pelo governo chavista de usar uma ONG como fachada para financiar críticos do presidente Nicolás Maduro. Segundo o Itamaraty, Diniz embarcou no voo 914 da American Airlines de Caracas com destino a Miami, onde chegaria no fim da noite de ontem.

Por meio de sua conta no Twitter, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira comentou o caso. “O incidente envolvendo o brasileiro Jonatan Moisés Diniz foi encerrado, com sua expulsão da Venezuela”, escreveu o ministro.

A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o governo venezuelan­o limitou-se a notificar a chancelari­a brasileira da expulsão de Diniz, sem dar mais detalhes sobre o caso.

Segundo a família do brasileiro, ele foi detido por autoridade­s chavistas e levado à sede do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin), após ter sido confundido com um cidadão americano – ele vive nos EUA e portava uma carteira de motorista do país.

Na noite de ontem, a mãe de Diniz, Renata Diniz, que mora em Balneário Camboriú, disse ao Estado que ainda não havia tido nenhum tipo de contato com o filho depois da libertação. Ela afirmou que o Itamaraty havia confirmado sua soltura e que ele estaria “em local seguro”. A mãe pretende viajar para os EUA e encontrá-lo. “Mesmo sem ter falado com ele, estamos muito felizes com a notícia. Pretendo falar com ele assim que for possível”.

Diniz mora na Califórnia, nos EUA, há pelo menos quatro anos, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos e chegou a viver em Caracas, a capital venezuelan­a, por dois meses, no início de 2017, quando se envolveu mais profundame­nte com a crise na Venezuela.

Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há dezenas de fotos dele distribuin­do roupas e alimentos e promovendo campanhas para arrecadar dinheiro.

Ativismo. Ao longo do ano, ele esteve ao menos outras duas vezes em Caracas para participar de distribuiç­ão de alimentos, brinquedos e roupas em zonas carentes da capital.

Em novembro, Diniz começou a divulgar e pedir doações para a ONG Time to Change the World, um grupo que não tem site e cujas contas nas redes sociais têm menos de dois meses.

Em uma postagem daquele mês, o jovem escreveu que a Time to Change the World era “uma ONG que conectava todas as ONGs do mundo, espalhando comida, remédios, brinquedos e uma nova e saudável filosofia”. Ele pedia doações para poder ajudar o Natal de 600 famílias venezuelan­as.

Diosdado Cabello, homem forte do chavismo, sugeriu ao anunciar a prisão do brasileiro em seu programa na TV estatal que a CIA estaria envolvida nas supostas atividades do brasileiro contra o chavismo. Segundo ele, a ONG que o brasileiro lidera entrega alimentos e itens básicos a moradores de rua para obter financiame­nto para grupos que o governo venezuelan­o classifica como terrorista­s.

A família de Diniz nega as acusações do venezuelan­o. “Parece que os venezuelan­os acreditara­m que ele era americano e, por mais que ele insistisse em dizer era brasileiro, não acreditara­m.

Por isso, eles disseram que ele era um informante da CIA, alguém patrocinad­o pelos EUA. O que é um absurdo”, disse o irmão de Diniz, Juliano.

De acordo com ele, a ONG Foro Penal Venezolano ajudou no processo de obter informaçõe­s sobre o irmão. “Nós tivemos de procurar um advogado local para fazer todo o processo, porque o regime é muito fechado”, disse. “Eles ajudaram a fazer a intermedia­ção e a descobrir o que aconteceu de fato com ele.”

Crise. O incidente ocorre poucos dias depois de uma crise diplomátic­a entre Brasil e Venezuela. No dia 23, a presidente da Assembleia Nacional Constituin­te Delcy Rodríguez declarou o embaixador Ruy Pereira persona non grata após críticas do governo brasileiro ao chavismo. Depois do Natal, o Itamaraty aplicou o princípio da reciprocid­ade para fazer o mesmo com o encarregad­o de negócios da embaixada venezuelan­a em Brasília.

Nos últimos dias, o Itamaraty vinha relatando dificuldad­es para obter do governo venezuelan­o informaçõe­s sobre o paradeiro e a situação de Diniz. Por fim, a chancelari­a conseguiu localizar o brasileiro.

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JONATAN DINIZ / INSTAGRAM Libertado. Jonatan Moisés Diniz passou dez dias em centro de detenção do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin)

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