Venezuela expulsa preso brasileiro
‘Incidente’. Após negociar soltura de Jonatan Moisés Diniz, preso desde o dia 27 em Caracas, Itamaraty diz que o caso está encerrado; família diz que ainda não teve contato com ele, que tomou um avião na capital venezuelana com destino a Miami
A Venezuela expulsou ontem para os EUA o preso brasileiro Jonatan Moisés Diniz. Para o chanceler Aloysio Nunes Ferreira, a decisão “encerra” o caso.
O governo da Venezuela expulsou ontem para os Estados Unidos o brasileiro Jonatan Moisés Diniz, detido em Caracas desde o dia 27 de dezembro, acusado pelo governo chavista de usar uma ONG como fachada para financiar críticos do presidente Nicolás Maduro. Segundo o Itamaraty, Diniz embarcou no voo 914 da American Airlines de Caracas com destino a Miami, onde chegaria no fim da noite de ontem.
Por meio de sua conta no Twitter, o chanceler Aloysio Nunes Ferreira comentou o caso. “O incidente envolvendo o brasileiro Jonatan Moisés Diniz foi encerrado, com sua expulsão da Venezuela”, escreveu o ministro.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o governo venezuelano limitou-se a notificar a chancelaria brasileira da expulsão de Diniz, sem dar mais detalhes sobre o caso.
Segundo a família do brasileiro, ele foi detido por autoridades chavistas e levado à sede do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), após ter sido confundido com um cidadão americano – ele vive nos EUA e portava uma carteira de motorista do país.
Na noite de ontem, a mãe de Diniz, Renata Diniz, que mora em Balneário Camboriú, disse ao Estado que ainda não havia tido nenhum tipo de contato com o filho depois da libertação. Ela afirmou que o Itamaraty havia confirmado sua soltura e que ele estaria “em local seguro”. A mãe pretende viajar para os EUA e encontrá-lo. “Mesmo sem ter falado com ele, estamos muito felizes com a notícia. Pretendo falar com ele assim que for possível”.
Diniz mora na Califórnia, nos EUA, há pelo menos quatro anos, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos e chegou a viver em Caracas, a capital venezuelana, por dois meses, no início de 2017, quando se envolveu mais profundamente com a crise na Venezuela.
Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há dezenas de fotos dele distribuindo roupas e alimentos e promovendo campanhas para arrecadar dinheiro.
Ativismo. Ao longo do ano, ele esteve ao menos outras duas vezes em Caracas para participar de distribuição de alimentos, brinquedos e roupas em zonas carentes da capital.
Em novembro, Diniz começou a divulgar e pedir doações para a ONG Time to Change the World, um grupo que não tem site e cujas contas nas redes sociais têm menos de dois meses.
Em uma postagem daquele mês, o jovem escreveu que a Time to Change the World era “uma ONG que conectava todas as ONGs do mundo, espalhando comida, remédios, brinquedos e uma nova e saudável filosofia”. Ele pedia doações para poder ajudar o Natal de 600 famílias venezuelanas.
Diosdado Cabello, homem forte do chavismo, sugeriu ao anunciar a prisão do brasileiro em seu programa na TV estatal que a CIA estaria envolvida nas supostas atividades do brasileiro contra o chavismo. Segundo ele, a ONG que o brasileiro lidera entrega alimentos e itens básicos a moradores de rua para obter financiamento para grupos que o governo venezuelano classifica como terroristas.
A família de Diniz nega as acusações do venezuelano. “Parece que os venezuelanos acreditaram que ele era americano e, por mais que ele insistisse em dizer era brasileiro, não acreditaram.
Por isso, eles disseram que ele era um informante da CIA, alguém patrocinado pelos EUA. O que é um absurdo”, disse o irmão de Diniz, Juliano.
De acordo com ele, a ONG Foro Penal Venezolano ajudou no processo de obter informações sobre o irmão. “Nós tivemos de procurar um advogado local para fazer todo o processo, porque o regime é muito fechado”, disse. “Eles ajudaram a fazer a intermediação e a descobrir o que aconteceu de fato com ele.”
Crise. O incidente ocorre poucos dias depois de uma crise diplomática entre Brasil e Venezuela. No dia 23, a presidente da Assembleia Nacional Constituinte Delcy Rodríguez declarou o embaixador Ruy Pereira persona non grata após críticas do governo brasileiro ao chavismo. Depois do Natal, o Itamaraty aplicou o princípio da reciprocidade para fazer o mesmo com o encarregado de negócios da embaixada venezuelana em Brasília.
Nos últimos dias, o Itamaraty vinha relatando dificuldades para obter do governo venezuelano informações sobre o paradeiro e a situação de Diniz. Por fim, a chancelaria conseguiu localizar o brasileiro.