O Estado de S. Paulo

A 1ª STARTUP BRASILEIRA DE US$ 1 BILHÃO

Após sucessos e fracassos como empreended­or, Veras viu sua 99, vendida aos chineses da Didi, chegar ao valor de US$ 1 bi

- Paulo Veras COFUNDADOR DO APP DE TRANSPORTE 99

• O empreended­or paulistano, de 45 anos, acertou a venda do controle do aplicativo de transporte 99 – startup que ele ajudou a criar em 2012 – para a gigante chinesa Didi Chuxing por US$ 600 milhões.

O paulistano Paulo Veras, de 45 anos, tem vivido uma mistura de sentimento­s nos últimos dias, desde que acertou com a gigante chinesa Didi Chuxing a venda do controle do aplicativo de transporte 99, que ele ajudou a criar em 2012, por US$ 600 milhões. Se por um lado Veras conseguiu um feito inédito, ao levar a primeira startup brasileira a chegar a US$ 1 bilhão em valor de mercado, por outro foi como ver um filho crescido partindo. “A princípio eu não queria sair do negócio”, diz o cofundador da startup, com certo pesar, em entrevista ao Estado. “Mas a 99 precisa de muito capital para crescer e toda vez é muito difícil conseguir. A aquisição eliminou esse risco.”

O medo de a startup ficar sem dinheiro sempre rondou Veras. No concorrido mercado de aplicativo­s de transporte, ganha a disputa quem tiver mais dinheiro para subsidiar corridas. Em julho de 2016, ele viveu seu momento mais tenso à frente da empresa: havia um ano que a 99 não recebia um novo aporte e a empresa dava prejuízo. Um dia, ele abriu o jogo numa reunião com todos os funcionári­os e disse que fecharia as portas em três meses, caso a startup não desse lucro. “Eu disse que a gente não podia morrer na praia, que tínhamos de virar o jogo”, afirma. Um mês de intenso trabalho depois, o primeiro mês da companhia no azul chegou. “Ficamos com a sensação de que poderíamos fazer qualquer coisa.”

Essa capacidade de mover as pessoas em torno de um objetivo comum é uma das marcas de Veras, segundo pessoas próximas ao executivo. “Ao mesmo tempo em que ele é obcecado como empreended­or, ele se preocupa em desenvolve­r as pessoas que estão ao redor”, afirma Mate Pencz, cofundador e presidente executivo da gráfica online Printi. “É alguém que acolhe e motiva.”

A empreended­ora Karen Kanaan, que trabalhou diretament­e com Veras quando ele foi diretor-geral da organizaçã­o de apoio a empreended­ores Endeavor (veja a trajetória do

executivo ao lado), relembra seus métodos de gestão. “O Veras dava apoio e segurança para que a equipe marcasse os gols”, diz.

Ferro e fogo. Com a venda da 99, Veras saiu com os bolsos cheios, assim como os outros cofundador­es – Ariel Lambrecht e Renato Freitas – e os fundos que apostaram na startup logo no início. Porém, engana-se quem pensa que a trajetória de Veras é feita apenas de êxitos.

Em 1996, pouco depois de deixar a Escola Politécnic­a da Universida­de de São Paulo, onde se formou em Mecatrônic­a, ele se juntou a outros amigos “nerds” para criar uma empresa de desenvolvi­mento de sites, a Tesla. O problema é que a maioria das pessoas no Brasil nem tinha acesso a internet. “Eu tinha certeza que a internet ia revolucion­ar o mundo”, diz ele. “Mas a gente não sabia nem como prestar o serviço, não conseguíam­os clientes.”

Depois de uma temporada na Endeavor, Quando levantamos US$ 200 milhões com Didi e SoftBank, todo mundo me dava os parabéns e dizia que era dinheiro que não acabava mais. Mas eu sempre tive a sensação de que não era suficiente.” ele criou o site de compras coletivas Imperdível, contemporâ­neo de Peixe Urbano e Groupon. Assim como os rivais, o Imperdível decolou, mas entrou em declínio pouco tempo depois. “A história do Imperdível é diferente da 99”, conta Guimarães, cofundador do site com Veras e que hoje lidera a startup de planejamen­to financeiro Fiduc. “O mercado quebrou e fomos arrastados para a mesma vala.”

Para Veras, o fracasso foi fundamenta­l para sua carreira. “Isso completou minha formação de empreended­or”. Mas também o fez ficar ressabiado com as novas “modinhas” da internet. E esse receio quase o fez perder a oportunida­de de sua vida. “Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça”, diz Veras, rindo.

Quando Lambrecht e Freitas lhe mostraram o primeiro protótipo do aplicativo da 99, ainda em 2012, ele disse de cara que não queria participar do projeto. “Eu só conseguia pensar que ia ser a ‘nova compra coletiva’ e que o mercado seria inundado por concorrent­es”, conta. Por fim, decidiu mergulhar de cabeça no projeto e não parou mais.

Só parou de pensar no negócio na última quarta-feira, 3, quando celebrou de shorts e camiseta a venda do aplicativo que ajudou a criar. Em meio a boias infláveis em formato de unicórnios – em referência ao apelido dado às startups que valem US$ 1 bilhão –, ele se despediu daquela que foi sua casa pelos últimos seis anos. Por ora, ele diz não querer começar outra empresa do zero. Seu novo projeto, a partir de agora, é tirar um bom tempo de férias.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Negócio. Para Veras, foi como ver um filho crescido partindo

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