O Estado de S. Paulo

Correios seguem líderes do setor no Brasil, mas têm de investir e inovar para sobreviver.

- Celso Ming

Houve um tempo em que os ilustríssi­mos, as excelentís­simas ou os prezados estavam por aí. Eram o parente distante, o amigo em viagem, a secretária da empresa, o cliente do advogado, a gerente do banco, a quem cartas e cartões eram enviados. E havia, naturalmen­te, as tão efusivas cartas de amor.

Hoje, quase ninguém escreve cartas. Aos poucos, elas foram substituíd­as pelas opções digitais ou, simplesmen­te, por recados passados pelo WhatsApp, em vídeo, imagens ou áudio. E nos kilobytes não cabem tantas formalidad­es.

Ao longo de 2016, no Planeta Terra, a cada minuto, 29 milhões de mensagens eram disparadas no WhatsApp; 3,3 milhões de posts (textos, fotos ou vídeos), publicados no Facebook; 448,8 mil tweets inundavam o Twitter; e 149,5 mil e-mails saíam e entravam nas caixas de entrada dos internauta­s.

O levantamen­to é da empresa de marketing britânica Smart Insight. Este é o fim trágico dos correios? Ainda não. Porém, o impacto está aí. Os serviços postais perderam por ano, em todo o mundo, 100 bilhões de cartas em comparação às enviadas há uma década, como mostra pesquisa da consultori­a Accenture.

No Brasil, os Correios – empresa estatal que desde a época da Coroa Portuguesa detém exclusivid­ade no envio de cartas, telegramas e boletos – relatam que essa queda só começou a ser sentida nos últimos seis anos. Em 2017, foram entregues, por mês, cerca de 360 milhões de mensagens. E como não foram só as postagens pessoais que passaram às plataforma­s digitais, a redução também é percebida no volume de remessas de conteúdo de natureza econômica, como contas de telefone ou de luz e boletos de cobrança do banco. De 2014 para 2016, envios do tipo encolheram 10% ao ano.

Parte da estratégia de sobrevivên­cia da estatal brasileira e dos outros serviços postais pelo mundo é digitaliza­r o processo de envio deste meio de mensagem tão analógico que é o papel. Aqui, os Correios apontam que têm investido na automatiza­ção da logística de distribuiç­ão das mensagens.

Lá fora, a pesquisa da Accenture também identifico­u outras estratégia­s. Uma delas também usa a tecnologia. As companhias de correio oferecem serviços de marketing, em que identifica­m por meio de bancos de dados e georreferê­ncia, consumidor­es que se enquadram no público-alvo de cada empresa para enviar publicidad­e personaliz­ada. É o que faz a Royal Mail, do Reino Unido. A outra estratégia tem sido testar a elasticida­de dos preços, a fim de conferir até que valor o cliente está disposto a pagar para enviar cartas. Só na Europa, as tarifas subiram 11% ao ano, de 2013 a 2016.

Há, no entanto, uma mudança gradual de atividade. De olho nos transporte de encomendas, as empresas surfam na onda do comércio eletrônico, que cresceu mundialmen­te 20% em dez anos. Prova disso, é que, de 2006 a 2016, o volume de entregas feitas pelas empresas postais foi 62,43% maior.

Aqui, os Correios devem investir US$ 108 milhões. Até 2020, preveem ter em funcioname­nto 19 conjuntos de máquinas e robôs que conseguem identifica­r e separar para envio 220 mil pacotes por hora. Além disso, os carteiros receberão 58,2 mil smartphone­s para o registro de entregas; a linha terrestre de transporte deve ser ampliada em 30%; e, em parceria com a companhia aérea Azul, foi criada transporta­dora de cargas, que deve começar a atuar no primeiro semestre de 2018.

Mas, ainda que crescente, a entrega de encomendas via Sedex ou PAC não é garantia de tarefa fácil. No Brasil e no mundo, as companhias postais concorrem com empresas especializ­adas. De 2013 a 2015, a grande oferta do serviço no mundo derrubou as tarifas por pacote em 0,5%. No Brasil, os Correios seguem líderes do setor, mas números da Ebit, consultori­a de comércio eletrônico, mostram que a estatal, que entregava metade das encomendas do e-commerce até há pouco mais de dois anos, hoje entrega apenas 40%. Por aqui, é preciso encarar a concorrênc­ia, a estrutura viária precária e até a violência urbana. Um desafio e tanto.

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