O Estado de S. Paulo

Pagamento não é ilegal, tampouco ético e republican­o

- Rodrigo Augusto Prando ✽ CIENTISTA SOCIAL E DOUTOR EM SOCIOLOGIA, É PROFESSOR E PESQUISADO­R DO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO MACKENZIE

Ocaso das emendas parlamenta­res – no governo Temer e em outros – traz, à memória, dois chistes feitos, geralmente, pelos economista­s: o já clássico “não existe almoço grátis” (“there is no free lunch”) e, ainda, que, se “torturados, os dados podem revelar o que quisermos”.

Especifica­mente em relação ao atual governo federal, houve em 2017 o pagamento de R$ 10,7 bilhões – um aumento de 48% em relação a 2016 e 68% se comparado com 2015.

As cifras, aqui, apresentam claramente a conjugação dos dois chistes acima. Temer liberou mais dinheiro na contenda política para barrar as denúncias que poderiam afastá-lo da Presidênci­a e, por isso, o pedido da Procurador­ia-Geral da República não teve autorizaçã­o da Câmara dos Deputados para prosseguir no Supremo Tribunal Federal (um almoço assaz caro!).

As emendas parlamenta­res são impositiva­s – ou seja, desde que aprovadas, o governo tem o dever de pagá-las. Contudo, ele também pode priorizar algumas e atrasar o pagamento de outras.

No presidenci­alismo, esse poder está nas mãos, na caneta, do chefe do Executivo. Não é ilegal, ao que tudo indica, mas não pode ser considerad­o nem ético nem republican­o. Em momento de recuperaçã­o de uma forte e dolorosa crise econômica, esses recursos, das emendas, foram usados até para o custeio de shows.

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