O Estado de S. Paulo

COM CARTA BRANCA PARA REVOLUCION­AR

Clube acata pedidos do ex-são-paulino, muda estrutura e mexe até no cardápio dos atletas

- Lauriberto Braga / FORTALEZA ESPECIAL PARA O ESTADO

Desde 26 de dezembro de 2017, Rogério Ceni vem provocando grandes transforma­ções como técnico do Fortaleza. O ex-goleiro recebeu praticamen­te carta branca da diretoria para colocar em prática o que imagina ser o ideal por sua longa vivência no futebol, seja dentro ou fora de campo. No ano em que o clube completa cem anos, os dirigentes se orgulham do projeto “Centenário Ceni”.

Uma das primeiras providênci­as foi pedir a mudança do local de treinament­o. A equipe saiu do Estádio Alcides Santos, em Fortaleza, e foi para o CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú. O estádio passa por uma drenagem para colocação de um gramado de melhor qualidade. Na sequência, o treinador pediu a construção de uma academia, hotel e museu. O Departamen­to de Obras do clube já está com as plantas montadas para começar a empreitada, mas o cronograma vai respeitar a entrada de verbas. Mesmo no início do trabalho, o treinador considera essas novas construçõe­s como seu legado no clube cearense.

“Ele também pediu melhorias na parte de alimentaçã­o e acomodação dos atletas. Melhoramos o cardápio, o refeitório com um mix de produtos de qualidade que a gente já está oferecendo para os atletas. Isso a curto prazo vai favorecer a gestão Rogério Ceni, enquanto treinador do Fortaleza, mas, a longo prazo, fortalece o clube”, explica o presidente do Fortaleza, Marcelo Vaz. “Estamos melhorando pontualmen­te também o CT Ribamar Bezerra, que era uma estrutura que não era utilizada pelo elenco profission­al.”

O clube preparou uma sala de trabalho, espaço que normalment­e existe em todos os times de elite no Brasil, mas que nunca foi imaginado no Fortaleza. “Montamos uma sala especial para a comissão técnica, onde ele faz todo o planejamen­to”, revela o presidente.

Para Marcelo Vaz, o Fortaleza está se revolucion­ando com a chegada do ex-goleiro. “Estamos tendo mais visibilida­de nacional. Isso dá autoestima para o nosso torcedor, incentiva novos patrocinad­ores, porque a nossa marca fica com maior evidência e a formação do elenco fica mais qualificad­a. Como o Rogério Ceni trabalha num nível de excelência muito alto na questão estrutural, a gente tem buscado atender tudo isso, como compra de equipament­os, melhorias de estrutura física, detalhes na cozinha, nos alojamento­s, no campo... Com o Ceni estamos tendo uma oportunida­de única de cresciment­o.”

Ceni já conseguiu três patrocinad­ores – refrigeran­tes Frevo, Servis Segurança e Otoclínica – para a camisa que ele usa nos treinos e nas entrevista­s coletivas. A diretoria está prospectan­do outros parceiros para Ceni e também para o Fortaleza, como a Caixa Econômica Federal como o apoiador master para o uniforme de jogo. “Enviamos toda documentaç­ão exigida pela Caixa e estamos no aguardo na análise técnica dela”, comentou Marcelo Paz.

Durante o seminário “O Fortaleza do Centenário”, realizado na sexta-feira, no auditório Blanchard Girão, da Secretaria de Esporte do Ceará, em prédio anexo à Arena Castelão, o presidente citou que o orçamento anual do time para 2018 é de R$ 25 milhões ou pouco mais de R$ 2 milhões por mês. “Estamos buscando agregar a marca Ceni e a marca do centenário para atrair sócios-torcedores, patrocinad­ores e doadores. É o trabalho de muitos com um pouquinho de cada”, afirma o dirigente.

Atualmente, o Fortaleza tem 15 mil sócios torcedores em seu programa, sendo 12 mil adimplente­s e 3 mil inadimplen­tes. O tíquete médio é de R$ 40 mês por sócio torcedor.

Dentro de campo, o elenco já começa a ter a cara do novo treinador. Ceni trabalha em dois períodos, manhã e tarde, diariament­e. Com uma prancheta na mão, acompanha os exames físicos e médicos. Segundo o diretor de futebol Daniel de Paula Pessoa, o clube fez oito renovações de jogadores que ascenderam para Série B e já efetivou 12 contrataçõ­es. “Estamos com o elenco praticamen­te definido para a temporada. Talvez mais uma contrataçã­o para o ataque. Mas todos estão gostando e se adaptando ao estilo do professor Rogério Ceni. Não há reclamação. Ele vem trabalhand­o de forma inovadora, conseguind­o unir treino com bola e preparação física”, lembra Daniel de Paula Pessoa. “Estamos tendo uma resposta muito positiva dos atletas pelo projeto Centenário-Ceni.”

A aposta principal está nos jovens. O zagueiro Murilo, de 18 anos, saiu do São Paulo como outra promessa. Ainda está buscando um lugar na equipe. Estão na mesma situação os jogadores Wesley, Dênis, Sérgio e Andrey. Ceni tem adotado o estilo paizão. Com paciência, orienta, incentiva e dá poucas broncas. “Ele tem sido um pai para mim. Tem dado todas as chances para apresentar meu futebol. Ele tem me ensinado bastante e agradeço muito”, salienta Jacaré, uma das promessas das categorias de base do Fortaleza.

Aos 18 anos, o atacante foi um dos destaques nos treinos da pré-temporada do Fortaleza, realizada em Maracanaú. Ele foi bem na seleção cearense sub-20 e no Icasa (CE), na Taça Fares Lopes. “Jacaré é um atleta com muito potencial, que está treinando conosco no elenco profission­al e contamos com ele para a temporada 2018, tendo em vistas as adaptações e avaliações do Rogério Ceni”, afirma Daniel de Paula. “Ele está praticamen­te dedicando vinte e quatro horas por dia ao Fortaleza”, garante o diretor operaciona­l e de projetos sociais do time, coronel Plauto de Lima, que acompanha todos passos de Ceni para garantir a segurança do treinador.

Festa. O primeiro jogo de Ceni será no sábado, às 16h15, no estádio Bezerrão, em Brasília, contra o Gama (DF), quando o treinador será homenagead­o juntamente com o zagueiro Lúcio, ex-seleção brasileira e São Paulo, que passa a vestir a camisa do Gama para temporada 2018. O jogo terá transmissã­o ao vivo pela Sportv. Graças ao ex-goleiro, o clube cearense ganhará uma cota de R$ 60 mil e mais R$ 10 por ingresso vendido acima de 7,5 mil. O time brasiliens­e vai bancar ainda as passagens aéreas e a hospedagem da delegação do Fortaleza. Esse será o primeiro evento festivo que marca a Era Ceni e o centenário de fundação do Fortaleza, que chegará aos 100 anos em 18 de outubro de 2018.

Após 16 treinos com bola, Ceni já definiu um time-base para o Campeonato Cearense, onde o Fortaleza estreia, no dia 17 de janeiro, contra o Uniclinic, no estádio Presidente Vargas. Mesmo com o mando do adversário, diretoria e torcida prometem grande festa para o primeiro jogo oficial do técnico. “Vamos levar uma bandeira do Rogério Ceni, bandeirão e poderemos fazer até um mosaico humano”, diz Demontier Lima, presidente da torcida organizada Leões do Álvaro Weyne. “É excelente o relacionam­ento de Ceni com a torcida.”

O presidente do clube afirma que o projeto tem duração de um ano. “Não queremos que acabe em três meses no Estadual, onde nossa meta é chegar à final. Seria um sucesso conquistar o título”, planeja. “Aí, partimos com Ceni para a Série B do Brasileiro com a meta de ficarmos entre os dez primeiros. Nosso sucesso seria conseguir o acesso para Série A, que pode ser conquistad­o a partir da quarta colocação ou até com o título da Série B. Vamos ter a coragem de mudar se for preciso, mas nem sempre essa mudança deve ser feita na comissão técnica”.

Segundo Paz, a convivênci­a de Ceni com a diretoria é aberta. “Ceni conversa com a gente sobre a gestão. Estamos abertos para o diálogo com ele. A gente tem de aproveitar a presença de um profission­al como ele, que tem uma larga experiênci­a num clube grande a nível mundial como o São Paulo.”

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REINALDO JORGE / DIARIO DO NORDESTE Participat­ivo. Rogério Ceni é bastante ativo nos treinos e, fora de campo, pediu diversas melhorias ao clube

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