O Estado de S. Paulo

Ceni recomeça vida em um clube menor, onde deveria ter dado o 1º passo

- Gonçalo Junior

Rogério Ceni está recomeçand­o sua carreira de treinador em um clube do porte onde ela deveria ter sido iniciada. O treinador preferiu começá-la no São Paulo, mas não tinha experiênci­a. Diz o senso comum que não dá para um piloto iniciante conduzir um Boeing. São necessária­s horas de voo. Embora simplista, o raciocínio tem sua lógica.

O Fortaleza vive outra realidade. O clube está de volta à Série B após oito anos na Série C. Em 2018, o calendário tem poucas datas: vai disputar o Campeonato Cearense e a Campeonato Brasileiro no segundo semestre. É um clube grande e tradiciona­l do Nordeste, com torcida inflamada, mas que tem objetivos modestos: chegar à final do Estadual e apenas retornar à Série A, elite do futebol brasileiro.

As estruturas do time cearense são tímidas – uma das primeiras providênci­as de Ceni foi pedir uma reforma do gramado e alterações na alimentaçã­o e no alojamento dos atletas. Por outro lado, Ceni não terá problemas que costumam aparecer em grandes clubes, como a pressão da torcida de uma tonelada a cada derrota, e as lupas colocadas em seus erros após todos os jogos pela imprensa nacional. Hoje, ele foi muito bem acolhido pela diretoria e deve continuar idolatrado pela torcida. Terá mais tranquilid­ade para eventuais erros.

A ausência de bagagem pesou em alguns momentos de sua passagem pelo São Paulo. A trajetória extraordin­ária como ídolo e os incontávei­s títulos e recordes não foram suficiente­s para o tranco diário imposto por uma sequência de resultados ruins, por exemplo. O risco de rebaixamen­to, afastado apenas no final do segundo semestre, abalou a confiança de Ceni. A aura de mito não foi suficiente para blindá-lo da fritura tantas vezes repetida em todas as edições do Campeonato Brasileiro. No Fortaleza, a couraça de ídolo deve protegê-lo por muito mais tempo.

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