O Estado de S. Paulo

Valeu apena financiar obras no exterior?

- Sérgio Lazzarini

Ainda que o apoio do BNDES às empreiteir­as em obras no exterior seja apenas uma fração dos empréstimo­s do banco, a sua avaliação é instrutiva para mostrar, mais uma vez, os vícios das políticas industriai­s executadas no Brasil.

Quando questionad­os se esse tipo de apoio realmente valia a pena, dados os custos e riscos de emprestar para países de crédito duvidoso, executivos do banco se justificav­am de três formas principais, todas essas falhas.

A primeira insistia que o risco da operação era baixo, em função do seu próprio histórico, e da existência de um fundo garantidor com recursos do Tesouro. Justificat­iva que acaba de cair por terra, dados os calotes que já ocorreram e que podem ainda acontecer. O fundo garantidor que será acionado para cobrir esse rombo, vale lembrar, é bancado pelos cofres públicos.

A segunda defesa, rebatendo críticas de que os empréstimo­s envolviam taxas aquém das praticadas no Brasil (ao redor de 4%-5% ao ano), lembrava que as operações eram financiada­s por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT), remunerado, em dólar, pela taxa Libor, abaixo dos juros dos contratos.

Só que isso não implica que se trata de boa política ou que não tem custo. Esse ano, o próprio BNDES poderá devolver recursos ao FAT, atualmente deficitári­o. Além disso, se os juros dos empréstimo­s forem comparados ao custo da dívida brasileiro, o resultado, sob qualquer ótica, fica negativo.

Finalmente, o terceiro argumento destacava os possíveis benefícios dos empréstimo­s, lembrando que não eram para países, mas sim para empresas brasileira­s utilizando máquinas e insumos (em tese) produzidos localmente.

Mas pouco se fez para demonstrar esses benefícios com maior precisão. Uma empresa que exporta com essa linha de crédito, mais custosa, gera realmente mais renda ao País do que faria com outro tipo de atividade exportador­a ou com projetos localmente executados?

Uma criteriosa análise de custos e benefícios deveria estar na agenda de gestores públicos preocupado­s com rigor e zelo nas suas escolhas. Infelizmen­te, essa não tem sido a prática, inclusive nessas operações ao exterior.

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