O Estado de S. Paulo

Origem e anos de estudo definem renda

Um ano a mais de formação vira alta de 2,3% na renda de quem estudou no Piauí e veio para SP; para fluminense, aumento é de 13%

- Douglas Gavras

O mercado de trabalho que os brasileiro­s de diferentes Estados enfrentam em São Paulo espelha as desigualda­des de ensino e de oportunida­des que os imigrantes de várias origens têm ao tentar a vida nos Estados Unidos. Uma pesquisa conduzida por economista­s da Fundação Getulio Vargas (FGV), a partir do Censo de 2010, aponta que, a depender da origem e da qualidade da formação do trabalhado­r, sua renda pode variar de 2% a 13% para um ano a mais de estudo.

Cruzando dados de nível de escolarida­de e renda, os economista­s concluíram que um ano a mais de formação de um brasileiro que estudou no Piauí e se mudou para São Paulo se reflete em um aumento de 2,3% na renda – o patamar mais baixo entre os 19 Estados analisados. Os nove Estados da região Nordeste tiveram os piores resultados de rendimento.

No topo do ranking estão os fluminense­s e gaúchos, para quem um ano a mais de estudo é revertido em ganhos de 10,5% a 13,1% no salário. Eles têm retornos maiores do que os que se formaram em São Paulo. A pesquisa não incluiu a região Norte.

Os pesquisado­res compararam os rendimento­s de grupos de duas pessoas de mesmo gênero, que têm a mesma idade e o mesmo Estado de origem. A diferença entre elas era ter um ano a mais de estudos.

“Os dados mostram o reflexo da formação no mercado, livre de preconceit­os. Nós comparamos um catarinens­e com outro catarinens­e e um baiano com outro baiano; a diferença perceptíve­l entre eles é o tempo que ficaram na escola”, explica Cezar Santos, pesquisado­r da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE), da FGV, e coautor da pesquisa.

Os resultados coincidem com os do Índice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb) do período, em que os Estados do Sul e do Sudeste estão entre os dez melhores.

Santos diz que a conclusão é que a qualidade de ensino entre os Estados brasileiro­s é mais desigual do que se imagina. “O estudo também demonstra o quanto o investimen­to nos primeiros anos de formação é mais efetivo que nos anos finais.” Ele lembra que experiênci­as recentes de melhoria da educação básica, como no Ceará, devem se refletir na renda dos migrantes cearenses em alguns anos.

Para o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), Simon Schwartzma­n, a qualidade do ensino, sem dúvida, é um fator que limita as oportunida­des que um migrante de um Estado mais pobre tem ao se mudar para um mercado mais competitiv­o.

“Também pesam as redes e conexões que essa pessoa traz consigo. Ela chega a São Paulo e se aproxima de outros que vieram

do mesmo lugar, com uma formação parecida e contatos de empregador­es próximos daquela realidade. Os grupos acabam fechados em si mesmos.”

‘Belíndia’. O estudo é uma adaptação de um levantamen­to

feito em 2012 por um pesquisado­r da Universida­de de Notre Dame, com imigrantes que foram viver nos EUA (leia mais abaixo). “É como se o mundo todo coubesse no Brasil. Na proficiênc­ia da educação, também somos uma ‘Belíndia’”, diz Santos,

citando o termo criado pelo economista Edmar Bacha para definir a desigualda­de brasileira. “O nosso mercado de trabalho reflete a realidade dos imigrantes que vão para os Estados Unidos e que passaram por um sistema de ensino desigual.”

A média dos resultados estaduais indica que um trabalhado­r que se muda do Piauí para São Paulo está na mesma situação que um vietnamita que vai para os Estados Unidos. O migrante do Rio de Janeiro, por sua vez, equivale a um suíço.

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