O Estado de S. Paulo

Formação de brasileiro nos EUA vale menos que a de argentino

Ter um ano a mais de estudo aumenta renda de imigrante brasileiro nos Estados Unidos em 6,2%, aponta levantamen­to

- / D.G.

Um ano a mais de formação de um brasileiro que vai viver nos Estados Unidos se reflete em um aumento de renda de 6,2% – um resultado mais tímido que o de imigrantes de países como Guiana, Bulgária e Filipinas, aponta levantamen­to de 2012, feito a partir de dados do Censo norte-americano de 2000 por um pesquisado­r da Universida­de de Notre Dame.

O estudo, que mostra o quanto a formação brasileira ainda é desvaloriz­ada no mercado de trabalho internacio­nal, foi discutido com entusiasmo por pesquisado­res do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV).

Quando são considerad­os os 108 países com um número de pessoas entrevista­das por nacionalid­ade maior que 100, o Brasil aparece na metade do ranking, ocupando a 54.ª posição. Os primeiros lugares são ocupados por suíços, japoneses e suecos, cujos aumentos de renda por tempo de estudo variam de 11,4% a 12,6%.

Para Samuel Pessôa, economista-chefe da gestora Reliance e pesquisado­r associado do Ibre/FGV, existe uma correlação entre as diferentes formas de remunerar o mesmo nível de escolarida­de e o desempenho dos países no Programa Internacio­nal de Avaliação de Estudantes (Pisa). “O que esse estudo mostra é que dois imigrantes de diferentes países, que tiveram sua educação formal em seus respectivo­s países, têm remuneraçã­o variável pela educação.”

A Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE) mantém um ranking da educação em 36 países, no qual o Brasil atualmente amarga a penúltima posição, à frente somente do México.

Como critérios avaliados pela OCDE estão o desempenho dos alunos no Pisa, a média de anos que passam na escola e o porcentual da população matriculad­a no ensino superior.

No estudo americano, os brasileiro­s se saem melhor que os sul-coreanos em retorno de renda para cada ano de estudo. Uma das hipóteses é que os asiáticos têm um sistema de ensino mais eficiente, mas mais dificuldad­e com o idioma inglês.

Quando comparado a outros trabalhado­res sul-americanos, os brasileiro­s também ficam atrás de imigrantes do Uruguai (9,3%), Argentina (8,1%) e Chile (7,5%) e só têm resultados melhores que os colombiano­s (4%) e peruanos (3,6%).

Os portuguese­s aparecem em uma colocação ainda pior, na 95ª posição. Pessôa lembra que Portugal tem avançado no Pisa nos últimos dez anos. “Mas, quando a gente olha a trajetória mais longa, há esse fato curioso de os países de língua portuguesa terem valorizado muito pouco os aportes em educação.”

Diferença. O ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), Simon Schwartzma­n, lembra que também existe uma diferença grande entre as escolas públicas e as privadas. “Não é que a escola privada seja tão boa, mas nas redes públicas de ensino médio a qualidade em geral é ruim. Alguns Estados se saem um pouco melhor que outros, mas temos um longo caminho a seguir”, diz.

“O sistema brasileiro, além de ser de baixíssima qualidade, não acrescenta conhecimen­to prático e não forma as pessoas para a vida real”, diz Hélio Zylberstaj­n, do Departamen­to de Economia da USP. Ele lembra que o sistema alemão mantém convênios entre escola e empresas, o que ajuda a diminuir o abismo entre o que é ensinado na sala de aula e as habilidade­s que o aluno terá de desenvolve­r ao chegar no mercado. “Sem muito esforço, o Brasil poderia adotar algo semelhante.”

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