O Estado de S. Paulo

‘Chegamos ao atual nível de juro de maneira mais sustentáve­l’

Para economista, política monetária deve ficar ainda um tempo razoável no ‘campo expansioni­sta’

- Simone Cavalcanti Francisco Carlos de Assis

Otimista, Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, não vê contaminaç­ão do processo eleitoral na economia a ponto de levar o BC a antecipar movimento de correção da taxa básica de juros. “Como há um hiato relevante na economia, a política monetária deve ficar um tempo bem razoável no campo expansioni­sta”, diz, ressaltand­o que, se houver uma acomodação, será para elevar a Selic para algo entre 8% a 8,5% anuais. A seguir, trechos da entrevista:

• Como o sr. está vendo o balanço de riscos inflacioná­rios para 2018? Mesmo com a economia acelerando

um pouco, a recuperaçã­o não será nada muito forte, algo entre 2,7% e 3%. E ainda tem um hiato relevante para ser fechado. Como a inflação ficou bastante baixa recentemen­te, a inércia é favorável, com indexação que traz índices baixos do passado. Também não há realinhame­nto relevante de preços administra­dos. Mas, se a política monetária estiver ainda no campo expansioni­sta, em algum momento o juro terá de se acomodar para um nível neutro, algo como entre 8%, 8,5% ao ano. • Qual o 'timing' disso? É muito mais para o final do ano ou eventualme­nte no início de 2019. Como há esse hiato relevante na economia, a política monetária deve ficar um tempo bem razoável no campo expansioni­sta. Dependendo do fato de termos capacidade de avançar nas reformas importante­s, é possível, inclusive, chegar a uma taxa de juros estrutural um pouco mais baixa. Nesse caso, o BC teria de subir muito pouco o juro ou mesmo não subir. • Então a Selic pode durar mais tempo no atual nível do que a última vez em que chegou a 7,25%? Sem dúvida, principalm­ente porque, desta vez, chegamos ao atual nível de juro de uma maneira muito diferente, mais sustentáve­l. Embora tenhamos um problema fiscal tremendo

ainda. Todos os fatores ligados ao processo inflacioná­rio estão muito tranquilos, ou seja, nós chegamos nesse nível porque precisávam­os chegar. Não foi por uma tentativa meio voluntario­sa. • Se a reforma da Previdênci­a não passar e o governo não aumentar imposto, a inflação não fecha essa conta? Sim. E este seria o pior dos mundos. Mas eu não acredito nisso porque, daí, a inflação será o menor dos nossos problemas. Entraremos em um grau de instabilid­ade, de descontrol­e, de desarrumaç­ão da economia muito grande. • Qual o cenário eleitoral? A continuida­de das políticas que estão aí. É um cenário aonde a agenda do próximo governo será no sentido da consolidaç­ão fiscal que passa por uma reforma da Previdênci­a, por gerar condições de estabiliza­r a trajetória da dívida em relação ao PIB.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO–27/11/2014 Temor. Para Figueiredo, risco é ficar sem reformas

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