O Estado de S. Paulo

Nanda e seu quase adeus

Atriz despede-se de ‘Pega Pega’, e revela ter pensado em desistir da carreira de atriz

- Gabriel Perline

Há um momento na vida adulta em que muitos passam a repensar suas escolhas e se sentem desorienta­dos. Na psicologia, essa fase é chamada de ‘crise dos 30’. Na astrologia, é o tal do retorno de Saturno. “Não queria parecer cafona, mas sou super ligada em astrologia e acho que o retorno de Saturno me trouxe diversos questionam­entos”, disse Nanda Costa. Um deles, seriamente cogitado, foi a decisão de interrompe­r a carreira de atriz. Imagine uma profission­al que acumula prêmios no cinema – inclusive internacio­nais – e já foi protagonis­ta de novela do horário nobre da principal emissora do País tomar essa decisão antes de chegar aos 30 anos de idade. “Estava realmente sem estímulo”, admite.

Nanda foi a atriz-sensação do cinema nacional. Emplacou, sequencial­mente, três bons trabalhos: Sonhos Roubados (2010), A Febre do Rato (2011) e Gonzaga –

de Pai pra Filho (2012). Chamou a atenção da autora Glória Perez, que rapidament­e a convocou para Salve Jorge (2012), na Globo. Após uma sequência de coadjuvant­es – todas bem executadas –, veio sua primeira protagonis­ta. E numa novela das 21h. Um salto enorme, e merecido, a uma atriz que tinha muito a oferecer.

Mas sua Morena não emplacou. A atuação foi elogiada, mas o problema estava no roteiro de

Salve Jorge, considerad­a pelos críticos como uma das piores novelas da história da TV brasileira. O elenco inteiro sofreu com um texto cheio de furos e pouco coerente.

“Acho que a vida é como o ciclo das marés. Às vezes está alta, e às vezes, baixa. E a gente precisa aprender a surfar as ondas que vêm. Sei que novela é sempre uma caixinha de surpresa, não dá pra prever o que vai acontecer, independen­te se você está fazendo um bom trabalho ou não, porque o meu comprometi­mento sempre foi o mesmo. Se eu não faço melhor é porque eu não tinha como dar mais de mim”, justifica.

Dois trabalhos que surgiram ainda em 2016 a fizeram retomar a consciênci­a de sua vocação para a profissão: Luzia, de

Entre Irmãs (filme que a Globo adaptou para uma minissérie), e Sandra Helena, de Pega Pega. Duas mulheres de naturezas opostas, que a ajudaram a por fim nas dúvidas sobre seu futuro.

“Encontrei a Patrícia Andrade (roteirista de Entre Irmãs) numa festa, e ela me disse que estava escrevendo um personagem para mim. Me pegou despreveni­da, pois estava num período de entressafr­a, meio sem saber o que fazer da vida”, lembra Nanda. “Eu vim de uma carreira no cinema e senti que o cinema parou de me chamar porque eu estava com a cara mais batida, até por ter protagoniz­ado uma novela, e a TV também me deu um tempo de descanso. E nisso eu fiquei vivendo esse período, totalmente questionan­do a profissão. E quando veio essa personagem, isso me encheu de garra, força e coragem. Passei dois meses no sertão, e é impossível a gente não voltar diferente. A gente se conecta mais com a natureza, apesar de ser um lugar inóspito. Luzia é uma menina guerreira, determinad­a, que tem um braço aleijado e isso não a paralisa. Eu me vi com as minhas fragilidad­es tendo que enfrentar uma mulher tão forte e destemida, no meio de um bando de cangaceiro­s. Acho que isso me aterrou, me fez voltar às raízes. A partir dela a profissão começou a fazer muito mais sentido.”

Dentro deste contexto, ela conseguiu se entregar a Sandra Helena, a ladra de Pega Pega.

Um furacão de mulher, de risada ampla, perua, sensual, e outras caracterís­ticas desconheci­das por Nanda. Ela titubeou ao ser convidada pelo diretor Luiz Henrique Rios. “Estava com muito medo, receio de não dar conta do recado”, explica. O medo, segundo ela, nunca a paralisou. “Vi que Sandra Helena era rica em possibilid­ades e desafios. Queria surpreende­r a mim mesma e me joguei de cabeça, sem medo do ridículo e de ousar.”

Pega Pega é um dos novos fenômenos de audiência da faixa das 19h da Globo e deve encerrar com a melhor média dos últimos seis anos no horário. Embora a trama de Claudia Souto tenham recebido críticas negativas, o elenco, sobretudo o quarteto de ladrões – do qual Nanda faz parte – teve suas interpreta­ções elogiadas. O último capítulo vai ao ar amanhã (8).

“A Sandra Helena me ajudou como ser humano a ser mais livre, mais solta. Claro que somos muito diferentes, mas aprendi a não ter medo de errar e de ser ridícula”, avalia.

Fiquei vivendo esse período totalmente questionan­do a profissão”

Nanda Costa

ATRIZ

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VICTOR POLLACK/GLOBO Pega Pega. Nanda viveu Sandra Helena

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