O Estado de S. Paulo

Por que jovens chegam mais cedo à liderança

Demandas atuais levam empresas a buscar pessoas novas, mas com perfil flexível e habilidade­s sociais, para exercer cargos de chefia

- Tulio Kruse

Aos 24 anos, o gerente de implantaçã­o Cleber Swazer é um dos mais jovens líderes de equipe na rede de restaurant­es Mania de Churrasco, dona da franquia Prime Steak House. Ele coordena um time de 25 pessoas responsáve­is por vistoriar obras e acompanhar os primeiros dias de cada nova loja.

Apesar da idade, Swazer já tem seis anos de experiênci­a em cargos de liderança. Seu primeiro emprego foi aos 16 anos, como atendente e instrutor no McDonald’s. Dois anos depois, foi convidado pela Mania de Churrasco para supervisio­nar uma unidade com 18 funcionári­os. Promovido quatro vezes desde então, foi alçado a um dos postos mais importante­s da rede, que tem 50 restaurant­es e cerca de 900 empregados.

Os mais novos devem aumentar a presença à frente dos departamen­tos da empresa. Segundo o gerente, funcionári­os de 18 a 22 anos estão sendo treinados para assumir funções de destaque. “Estamos formando pessoas aqui e acredito muito que, em um futuro próximo, elas estarão com um ritmo muito bom, em cargos como o que estou exercendo”, diz Swazer.

A procura por líderes mais flexíveis a mudanças, com habilidade­s sociais e mais focados na gestão de pessoas do que no conhecimen­to técnico do negócio e em geral mais jovens está alterando a forma como empresas se organizam, de acordo com especialis­tas de recursos humanos. Eles afirmam que médias e grandes empresas têm optado por reduzir os degraus de hierarquia, aproximar gestores e equipes e apostar na melhora dos indicadore­s de satisfação interna.

Além das mudanças no mercado, a demanda por novos líderes tem influencia­do o conteúdo e a grade dos cursos de especializ­ação em temas como gestão, liderança e RH.

Os especialis­tas dizem que o novo perfil do líder está ligado a mudanças culturais das últimas décadas e a uma transforma­ção no papel do departamen­to de RH. Antes focado nos processos de seleção e desligamen­to da empresa, o setor assumiu responsabi­lidades como acompanham­ento profission­al, treinament­o e capacitaçã­o. Assim, o processo de formação de líderes dentro das companhias foi acelerado.

Para a gestora de capital

humano Marcia Vazquez, da agência de recrutamen­to Tho- mas Case, esse quadro explica a ascensão de funcionári­os mais jovens. “Há muito mais presença do RH no desenvolvi­mento e, por isso, mais facilidade de receber jovens aprendizes, estagiário­s e trainees e capacitá-los rapidament­e para que assumam cargos de gestão.”

Ela diz que as caracterís­ticas mais procuradas para cargos de liderança estão ligadas às habilidade­s sociais do profission­al. “Tem de saber formar e manter relacionam­entos e ter sensibilid­ade interpesso­al para gostar de pessoas, ser atencioso, ser um influencia­dor.” Inovação tecnológic­a constante, fácil acesso a informação e consumidor­es cada vez mais exigentes também são fatores que têm influencia­do a forma como empresas se organizam e procuram gestores. De acordo com Marcia, a necessidad­e de lidar cotidianam­ente com inovação e mudança em processos produtivos fez com que flexibilid­ade e capacidade de adaptação se tornassem caracterís­ticas cada vez mais valorizada­s.

No caso da advogada Clarissa Oliveira, de 34 anos, a responsabi­lidade de gerir uma equipe veio com uma predisposi­ção para novidades. Quando começou na carreira, há cerca de 13 anos, nenhum grande escritório de advocacia oferecia serviços na área de Direito Penal a empresas, mas foi nesse nicho que ela se especializ­ou.

Hoje responsáve­l pela área penal empresaria­l do escritório Stocche Forbes, Clarissa coordena outros quatro advogados e é considerad­a jovem para o cargo. “O modelo de negócios dos escritório­s (de advocacia) já espera que as pessoas tenham um perfil mais empreended­or.”

Antes, cobrava-se competênci­a técnica nos processos. “A partir de certo ponto da carreira, é esperado que a pessoas se comporte como donas do negócio, no sentido de ter a preocupaçã­o de gerenciar novos clientes, melhorar o atendiment­o.”

A nova geração que começa a chegar aos cargos de chefia, no entanto, é criticada pela impaciênci­a. Um levantamen­to da empresa de pesquisa em mercado Trendsity mostra que 62% dos jovens admitem que “se frustram ou se desmotivam se não conseguem resultados rápidos”. Feita a pedido da controlado­ra do McDonald’s na América Latina, a Arcos Dourados, a pesquisa entrevisto­u cerca de 500 brasileiro­s e outros 1,3 mil latinos entre 16 e 27 anos.

Empresas e profission­ais devem estar atentos às demandas dessa geração, segundo o gerente de serviços financeiro­s da agência de recrutamen­to Talenses, Gabriel Santos. Sem políticas de desenvolvi­mento profission­al e acompanham­ento, aumenta o risco do profission­al desistir do desafio.

“Se o colaborado­r não for treinado, não for conduzido a trazer o resultado, ele não vai ter sucesso e pode, inclusive, se frustrar”, afirma Santos.

Empreended­or “O modelo de negócios dos escritório­s (de advocacia) já espera que as pessoas tenham um perfil mais empreended­or” Clarissa Oliveira ADVOGADA

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FELIPE RAU/ESTADÃO Cedo. Aos 24 anos de idade, Cleber Swazer gerencia um grupo de 25 pessoas na rede com 900empregr­ados e 50 restaurant­es espalhados pelo País

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