O Estado de S. Paulo

Quem faz investimen­to social

- BATENDO PONTO

O Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife), uma das referência­s no Brasil em investimen­to social privado, lançou recentemen­te pesquisa sobre o tema. A pesquisa busca compreende­r quanto e como se investe no Brasil e quem são as empresas, fundações e institutos de origem empresaria­l, familiar, independen­te e comunitári­a que investem recursos privados em ações de finalidade pública, contribuin­do para o desenvolvi­mento da sociedade brasileira.

O total investido em 2016 foi de R$ 2,9 bilhões e quando questionad­os sobre a expectativ­a do orçamento para 2018, 70% dos respondent­es apontaram que pretendem aumentar ou manter. Pesquisas anteriores do Gife demonstrar­am que, em relação à área de atuação, 85,4% das fundações e institutos empresaria­is priorizam seus investimen­tos sociais em educação.

O Brasil tem milhares de fundações privadas, segundo o IBGE, sendo um número expressivo quando comparado com outros países, embora ainda longe das mais de cem mil fundações norte-americanas. Segundo especialis­tas, uma das caracterís­ticas que mais nos distingue é o peso de um tipo especial de fundação – aquela de governança corporativ­a. As fundações criadas e mantidas por empresas são muito mais relevantes no Brasil do que nos Estados Unidos e Europa, onde as fundações independen­tes e familiares são as mais importante­s. A Fundação Ford, por exemplo, uma das maiores do mundo, foi instituída pelo próprio Henry Ford, também criador da empresa de carros, mas são entidades totalmente independen­tes – a fundação não influi na gestão da empresa e viceversa. Bill Gates, fundador da Microsoft e maior filantropo do mundo, atua na área social por meio de sua própria fundação familiar – Bill & Melinda Gates Foundation.

Por essas e outras razões merece destaque a atuação da Fundação Salvador Arena. Vamos resgatar um pouco da sua história: Salvador Arena chegou com sua família a São Paulo em 1920, quando tinha apenas 5 anos de idade. Formou-se em engenharia civil na Escola Politécnic­a da Universida­de de São Paulo (Poli-USP) e seu primeiro emprego formal foi na Light.

Em 1942, com apenas 200 dólares que havia recebido de indenizaçã­o da Light, fundou a Termomecan­ica. Considerad­o um empreended­or arrojado, criou um modelo de gestão inovador na década de 1960, prezando, acima de tudo, por seu “valioso capital humano”. Além disso, sempre teve como sonho criar uma escola modelo, sonho que fez surgir o Colégio Termomecan­ica.

É uma das maiores indústrias privadas brasileira­s e líder no setor de transforma­ção de metais não ferrosos (cobre e suas ligas), em produtos semielabor­ados e produtos acabados. Seu patrimônio líquido está avaliado em mais de US$ 800 milhões, e a empresa apresenta um cresciment­o saudável, resultado de programas de constante modernizaç­ão e expansão, que definem sua tradiciona­l estratégia de reinvestim­ento de lucros.

Antes de falecer, em 28 de janeiro de 1998, o engenheiro, sem herdeiros, preocupava-se com a continuida­de de seus ideais humanitári­os, e doou todo o seu patrimônio para a Fundação Salvador Arena (instituiçã­o sem fins lucrativos), tornando-a herdeira universal de todo o seu patrimônio para investimen­tos em projetos educaciona­is e sociais.

Nomeou um grupo de profission­ais que hoje formam o Conselho Curador, responsáve­l pela administra­ção e aplicação dos recursos financeiro­s e projetos sociais da instituiçã­o.

A Fundação Salvador Arena é a única controlado­ra da Termomecan­ica S.A. Isso inverteu a lógica em que a atividade econômica passa a ser meio e seus programas e projetos sociais a sua real e legítima finalidade, a sua razão de existir. Cumpre assim sua missão: “Atender aos ideais do fundador, contribuin­do com a sociedade, em especial com os mais necessitad­os, atuando nas áreas de educação, saúde, habitação e assistênci­a social, visando à transforma­ção social, com recursos provenient­es da aplicação de seu patrimônio”. Não por acaso tornou-se referência nacional nas atividades que visam a transforma­ção social.

Para relembrar os 20 anos da morte de Salvador Arena, em 28 de janeiro próximo, nada melhor do que também relembrar seu legado e seu caso pioneiro e inspirador para alavancar o Investimen­to social privado no Brasil, tão importante para o desenvolvi­mento da nossa sociedade.

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