O Estado de S. Paulo

Saúde e educação perdem R$ 472 mi para campanhas

Fundo eleitoral criado pelo Congresso também retirou verbas de áreas como segurança e infraestru­tura

- Felipe Frazão / BRASÍLIA

O fundo eleitoral criado pelo Congresso para custear as campanhas deste ano com recursos públicos levou à perda de R$ 472,3 milhões originalme­nte destinados pelos parlamenta­res para educação e saúde, informa Felipe Frazão. Levantamen­to feito pelo Estado aponta que o fundo receberá R$ 121,8 milhões remanejado­s da Educação e R$ 350,5 milhões da Saúde. O valor correspond­e à transferên­cia de dinheiro das emendas de bancadas – que seria destinado a esses setores – para gastos com as campanhas eleitorais deste ano. O fundo, aprovado em 4 de outubro do ano passado, é uma alternativ­a à proibição pelo Supremo das doações empresaria­is e receberá, no total, R$ 1,75 bilhão. Além das verbas de saúde e educação, R$ 828 milhões foram retirados de áreas como segurança pública, infraestru­tura, obras contra a seca e agricultur­a. Universida­des também foram afetadas.

O fundo eleitoral bilionário criado para bancar as campanhas políticas com recursos públicos retirou R$ 472,3 milhões originalme­nte destinados pelos parlamenta­res para educação e saúde neste ano. Deputados federais e senadores, quando aprovaram a destinação de verbas para as eleições, haviam prometido poupar as duas áreas sociais de perdas.

Levantamen­to feito pelo Estado mostra que o fundo receberá R$ 121,8 milhões remanejado­s da educação e R$ 350,5 milhões da saúde. O valor correspond­e à transferên­cia de dinheiro das emendas de bancadas – que seria destinado a esses setores – para gastos com as campanhas eleitorais deste ano.

O fundo, aprovado em 4 de outubro do ano passado, é uma alternativ­a à proibição das doações empresaria­is e receberá, no total, R$ 1,75 bilhão. Desse montante, R$ 1,3 bilhão sairá das emendas de bancada, cujo pagamento é obrigatóri­o pelo governo, e R$ 450 milhões da isenção fiscal que seria concedida a rádios e TVs para veicular programas partidário­s.

O dinheiro será distribuíd­o aos partidos de acordo com o tamanho de suas bancadas na Câmara e no Senado. A criação do fundo é contestada por ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria da ministra Rosa Weber. Ela decidiu levar o caso ao plenário da Corte e ainda não há data para o julgamento.

A verba retirada da saúde para abastecer o caixa das campanhas seria suficiente, por exemplo, para arcar com a construção de 159 novas Unidades de Pronto-Atendiment­o (UPAs), com sete leitos, dois médicos e aten- dimento médio de 150 pacientes por dia ou financiar 859 Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Os recursos que deixaram de ser aplicados em educação equivalem a 34% de todos os pagamentos que o governo realizou no ano passado no Programa Nacional de Reestrutur­ação e Aquisição de Equipament­os para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfânci­a): R$ 355 milhões, conforme dados do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento da Educação (FNDE). O dinheiro serve para construir e equipar creches.

A Secretaria Estadual da Saúde do Espírito Santo perdeu, por exemplo, R$ 15,7 milhões para a compra de ambulância­s. Em Goiás, o programa Caminho da Escola, que compra ônibus e bicicletas para transporte escolar em núcleos rurais e periférico­s, não terá R$ 18,7 milhões.

Os principais articulado­res da reforma política, quando a proposta tramitou no Congresso Nacional, afirmaram que as duas áreas não seriam prejudicad­as. “Não aceito que mexa um centavo de saúde e educação”, disse à época o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Um dos idealizado­res do uso das emendas como fonte de recursos, o senador Romero Jucá (MDB-RR), líder do governo Michel Temer, também rechaçou as perdas: “A proposta que eu fiz não tira dinheiro da educação, da saúde, de lu- gar nenhum”. Procurados, eles não foram encontrado­s para comentar o assunto.

Outras áreas. Além das verbas de saúde e educação, R$ 828 milhões foram retirados de áreas como segurança pública, infraestru­tura, obras contra a seca e agricultur­a.

Com o remanejame­nto de emendas de outras áreas, deixarão de ser comprados equipament­os operaciona­is e viaturas para a Polícia Militar do Rio (R$ 24,3 milhões). Serão retirados também R$ 33,6 milhões destinados para a construção de batalhões da PM e do Instituto Médico-Legal (IML) no Distrito Federal. No Nordeste, a construção do sistema adutor do Rio Piancó pelo Departamen­to Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) teve R$ 10 milhões retirados. A obra deve levar água da transposiç­ão do Rio São Francisco para 18 municípios paraibanos.

O ensino superior também foi afetado. A Universida­de Federal do Acre (UFAC) teve R$ 6 milhões transferid­os e a Universida­de Federal do Amapá (Unifap) ficou sem a emenda que previa R$ 27 milhões para a conclusão das obras do Hospital Universitá­rio. A expansão dos câmpus da Universida­de Federal do Espírito Santos (UFES) perdeu R$ 33 milhões.

Impositiva­s. De acordo com o governo, as emendas são impositiva­s, ou seja, após aprovadas, têm de ser pagas. A definição sobre seu destino, no entanto, cabe ao Congresso, e o governo não se pronuncia sobre o assunto. O Orçamento dos ministério­s não muda com o fundo. Em reportagem publicada ontem, o Estado mostrou que, desde 2014, o valor liberado de emendas parlamenta­res foi o maior em 2017.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO -12/12/2017 Alternativ­a. Com fim de financiame­nto empresaria­l, parlamenta­res aprovaram fundo eleitoral de R$ 1,75 bilhão

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