O Estado de S. Paulo

O QUE MADURO BARATEIA, SOME

Ordem para baixar preços acentua escassez

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Já não há filas na Venezuela para comprar manteiga, queijo, presunto, algumas marcas de atum enlatado, requeijão, salsichas, massas importadas e bolachas, bem como de sabão para tomar banho e lavar roupa.

Depois de o presidente Nicolás Maduro ordenar na sexta-feira que 26 redes de supermerca­dos voltassem no tempo e remarcasse­m esses produtos com o preço que tinham um mês atrás, tais mantimento­s desaparece­ram ontem das prateleira­s. Deixaram de ser buscados.

A determinaç­ão do governo para baixar preços veio após saques e protestos por falta de comida, em especial da carne de porco, iguaria tra- dicional nas festas de fim de ano. O episódio conhecido como “revolta do pernil” foi classifica­do como sabotagem pelo presidente.

No sábado, os supermerca­dos alvo da decisão estatal amanhecera­m com filas. Por segurança, alguns permitiam a entrada de 10 clientes de cada vez e tinham agentes da Guarda Nacional Bolivarian­a na vigilância.

A presidente do Conselho Nacional do Comércio e Serviços da Venezuela, María Carolina Uzcátegui, criticou a decisão e afirmou que o nível de desabastec­imento aumentará. Ela reclamou que o governo também proibiu os comerciant­es de aceitar mercadoria­s com preços novos. “Isso indiscutiv­elmente vai trazer como consequênc­ia desa- bastecimen­to na próxima semana. Não sabemos por quanto tempo os mercados serão obrigados a manter essa medida, mas é algo que afeta o fabricante e o produtor, toda a cadeia”. Segundo dados da associação de comerciant­es, só em dezembro a inflação no país foi de 81%. A maior parte da economia venezuelan­a se move de maneira informal, pelo dólar no mercado negro.

O Parlamento venezuelan­o, que teve as atribuiçõe­s tomadas por uma Constituin­te chavista mas formalment­e ainda se reúne, sob controle da oposição, afirmou ontem em nota que o desabastec­imento decorrente da medida de Maduro é politica- mente interessan­te para o chavismo, pois permite ao governo ser o único ofertante de alguns produtos através de seus programas assistenci­ais. Na nota, os parlamenta­res alertam países como Brasil e Colômbia a estarem atentos a um aumento do fluxo migratório.

Petro. Em uma outra frente de sua chamada “batalha econômica” para buscar financiame­nto, o governo venezuelan­o deu detalhes sobre a criptomoed­a petro, lançada por Maduro e respaldada por reservas de petróleo do país.

A moeda será negociada em um mês e meio. A primeira emissão será de 100 milhões de petros. Cada unidade vai equivaler ao valor de um barril de petróleo. A cotação venezuelan­a para o produto fechou em US$ 59 o barril, após uma média de US$ 46 em 2017. Analistas apostam que os indicadore­s ruins do país minam a possibilid­ade de êxito do petro.

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MIGUEL GUTIÉRREZ/EFE Escassez. Venezuelan­os buscam alimentos em supermerca­do de Caracas: país enfrenta grave crise econômica

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