O Estado de S. Paulo

Política migratória trava plano de Merkel para formar governo

Para constituir coalizão, chanceler alemã tenta conciliar interesses de partidos à direita e à esquerda do seu

- BERLIM

A chanceler alemã, Angela Merkel, demonstrou otimismo ontem sobre as chances de poder formar um governo na Alemanha e chegar a 12 anos no cargo. Seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), deu início a cinco dias de negociaçõe­s com os social-democratas do SPD. “Acredito que podemos alcançar um acordo para formar um governo estável”, disse Merkel.

As eleições legislativ­as de setembro, marcadas pelo avanço da extrema direita e por um retrocesso dos grandes partidos, não resultaram em nenhuma maioria clara na Câmara dos Deputados. A chanceler e seu partido tentaram em um primeiro momento formar governo com os liberais e os ecologista­s, mas não alcançaram acordo. Resta a ela a opção de fazer aliança com o partido social-democrata SPD, com o qual já governou (2013-2017).

As consultas devem ser difíceis, especialme­nte pelas divergênci­as entre o CSU, partido aliado da chanceler mais à direita que o CDU, e o SPD no que diz respeito à política migratória e o futuro da Europa.

O CSU enfrenta uma eleição na região da Bavária em abril e pode perder a maioria frente o avanço da extrema direita representa­da pela Alternativ­a para Alemanha (AfD). Seus dirigentes pediram reiteradam­ente que se endureça a política de acolhida de solicitant­es de refúgio. O SPD, ao contrário, deseja a flexibiliz­ação da política para os migrantes, em particular a relacionad­a a reagrupame­nto familiar.

Europa. A questão da integração europeia constitui outra fonte de discórdia. O líder do SPD, Martin Schulz – ex-presidente do Parlamento Europeu – defende a criação dos “Estados Unidos da Europa” e apoia os projetos de reforma da eurozona do presidente francês, Emmanuel Macron, com um orçamento próprio e um ministro das Finanças europeu. O CDU de Merkel e o CSU se mostraram mais céticos sobre esse tema.

O SPD está dividido sobre o que fazer. Após sua derrota nas urnas, muitos de seus membros preferem permanecer uma etapa na oposição, temendo o mesmo destino dessa corrente política na França, onde perdeu protagonis­mo. Em 2000, o partido tinha cerca de 40% da preferênci­a do eleitorado. Hoje, está em 20%.

O partido chegou a afirmar que viraria oposição após seu pior desempenho eleitoral desde 1933, mas reconsider­ou quando o presidente da Alemanha interveio. Os militantes do partidos darão a última palavra sobre um possível acordo em uma convenção no dia 21.

“Chego à negociação com otimismo, mas consciente do enorme trabalho que nos espera”

Angela Merkel CHANCELER

ALEMÃ

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil