Tuítes minam imagem dos EUA
Duas coisas se destacam quanto às mensagens de política externa que o presidente Donald Trump publicou no Twitter desde que assumiu o cargo: até onde elas se desviam da forma tradicional de expressão dos presidentes e o modo de lidar com a diplomacia.
Os países não têm certeza se tomam suas palavras como pronunciamentos políticos ou se elas podem ser ignoradas com segurança. Mesmo que se admita que os tuítes de Trump podem ser em grande parte destinados desabafos ou para tranquilizar sua base doméstica, há uma sensação crescente de que a credibilidade da administração e a própria presidência estão sendo minadas. Para Nicholas Burns, ex-diplomata de carreira e embaixador na Otan, as postagens já desvalorizaram as palavras do presidente. “Mesmo quando Trump está certo, defendendo manifestantes iranianos ou opondo-se aos testes de mísseis da Coreia do Norte, sempre existe algum excesso ou alguma afirmação questionável que prejudica a credibilidade americana”, disse ele.
Um importante diplomata europeu considerou desestabilizadora a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Quanto à Coreia do Norte, apesar dos tuítes de Trump, Pyongyang prosseguiu com testes de mísseis balísticos intercontinentais e não deu nenhuma indicação de que concordará em deixar as armas nucleares em troca de negociações com Washington. Em vez disso, evitou Washington, ao reabrir conversas com Seul.
No Paquistão, Trump ameaçou suspender a ajuda ao país, o que indignou Islamabad, e deu uma abertura à China, que em 24 horas passou a elogiar a luta do Paquistão contra o terrorismo. O Paquistão então adotou a moeda chinesa para transações, a fim de melhorar o comércio bilateral. François Heisbourg, um analista francês de defesa e segurança, comentou de forma sucinta a ira de Trump: “empurrou o Paquistão para uma relação exclusiva com a China”.