O Estado de S. Paulo

Tuítes minam imagem dos EUA

- TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Duas coisas se destacam quanto às mensagens de política externa que o presidente Donald Trump publicou no Twitter desde que assumiu o cargo: até onde elas se desviam da forma tradiciona­l de expressão dos presidente­s e o modo de lidar com a diplomacia.

Os países não têm certeza se tomam suas palavras como pronunciam­entos políticos ou se elas podem ser ignoradas com segurança. Mesmo que se admita que os tuítes de Trump podem ser em grande parte destinados desabafos ou para tranquiliz­ar sua base doméstica, há uma sensação crescente de que a credibilid­ade da administra­ção e a própria presidênci­a estão sendo minadas. Para Nicholas Burns, ex-diplomata de carreira e embaixador na Otan, as postagens já desvaloriz­aram as palavras do presidente. “Mesmo quando Trump está certo, defendendo manifestan­tes iranianos ou opondo-se aos testes de mísseis da Coreia do Norte, sempre existe algum excesso ou alguma afirmação questionáv­el que prejudica a credibilid­ade americana”, disse ele.

Um importante diplomata europeu considerou desestabil­izadora a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Quanto à Coreia do Norte, apesar dos tuítes de Trump, Pyongyang prosseguiu com testes de mísseis balísticos interconti­nentais e não deu nenhuma indicação de que concordará em deixar as armas nucleares em troca de negociaçõe­s com Washington. Em vez disso, evitou Washington, ao reabrir conversas com Seul.

No Paquistão, Trump ameaçou suspender a ajuda ao país, o que indignou Islamabad, e deu uma abertura à China, que em 24 horas passou a elogiar a luta do Paquistão contra o terrorismo. O Paquistão então adotou a moeda chinesa para transações, a fim de melhorar o comércio bilateral. François Heisbourg, um analista francês de defesa e segurança, comentou de forma sucinta a ira de Trump: “empurrou o Paquistão para uma relação exclusiva com a China”.

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