ANDERSON, O ‘CORAÇÃO VALENTE’ DO PALMEIRAS
Após um ano, goleiro da Copinha supera miocardite
Anderson da Silva Paixão sentiu uma dor forte no peito quando estava com a família em Rio Grande da Serra (SP). Era um domingo de folga de 2016. Achou esquisito, nunca tinha tido nada. Exames detectaram uma alteração no batimento cardíaco causada por uma miocardite.
Os médicos recomendaram que ele parasse de jogar imediatamente por três meses. Precisava de repouso para que o músculo inflamado cicatrizasse. Os três meses se tornaram seis. Tensão e expectativa. Após o semestre, um comitê de médicos, que incluiu um americano referência em cardiopatias, reuniu-se para discutir o caso. O risco de não jogar mais era uma possibilidade discutida abertamente pelos médicos.
Aquilo foi uma pedrada. Anderson estava na melhor fase da carreira. Convocado à seleção brasileira sub-20 pela primeira vez, treinava constantemente com a equipe profissional. “Todos os dias, eu pensava que não jogaria mais. Não tinha como não temer”, diz o goleiro.
O clube decidiu ouvir uma se- gunda opinião e realizar novos exames. Não havia consenso entre os médicos. Paralelamente, o Palmeiras criou uma ação especial para o jovem talento não perder o contato com o clube, mantendo a motivação enquanto estivesse parado. Foi o “Projeto Anderson” com a participação de vários departamentos em uma ação multidisciplinar.
Ele fez estágios com funcionários da base, passou por análise de desempenho e preparação física. Atuou até na área de serviço social como palestrante em projetos sociais e foi supervisor na Copa Cidade Verde Sub-13, em Três Coroas (RS). “Pude conhecer coisas que um atleta não conhece”, diz o atleta natural de Ribeirão Pires, em São Paulo.
Nove meses depois de descobrir a doença, ele recebeu a notícia de que poderia voltar gradativamente aos treinos com um cronograma conservador de treinos. O aval médico para que ele pudesse atuar foi dado no dia 23 de agosto de 2017. Um ano e um mês depois daquela dor no peito no domingo de folga, ele já foi relacionado para o duelo com o Atibaia, pelo Campeonato Paulista sub-20, três dias depois.
Na volta, o coração recupera- do passou por um teste difícil. Quando o Palmeiras já vencia por 3 a 0, jogo decidido, o técnico Wesley Carvalho chamou o goleiro, que foi aplaudido de pé pela torcida no CT da base, em Guarulhos (SP).
Hoje, ele não precisa tomar remédios, mas tem de se subme- ter a exames periódicos para saber se está tudo bem. Não sente mais dores. “Eu olho para tudo isso com uma desafio que eu tive de vencer. Tive que ultrapassar, todos temos desafios, esse foi mais um que tive de superar. Eu levo para mim todos os dias quando eu vou treinar quando eu vou jogar e me incentivou ainda mais”, diz.
Hoje, o goleiro de 1,94 m será mais uma vez titular do Palmeiras na Copa São Paulo de Juniores. Depois de duas vitórias (Luverdense e Moto Club), a equipe enfrenta o Taubaté para definir quem será o campeão do grupo. Firme no jogo aéreo, Anderson se diferencia também pela habilidade com os pés, especialmente a cobrança de pênaltis nas quais tem bom aproveitamento. “Tenho bastante confiança na cobrança. Eu levo a sério”.