O Estado de S. Paulo

Finanças pessoais

Robôs de investimen­to ganham espaço

- Anna Carolina Papp Jéssica Alves

A queda dos juros provocou um rearranjo no cenário dos investimen­tos, tornando mais desafiador­a a tarefa de montar uma carteira de aplicações. Por isso, cresceu a parcela de investidor­es que optou por delegar a algoritmos a missão de escolher o que fazer. Oferecidos por fintechs (como são chamadas as empresas que criam inovações na área financeira), os “robôs de investimen­to” criam, de forma automatiza­da, portfólios de acordo com o perfil do investidor – a custos, em geral, mais baixos que as taxas de administra­ção cobradas do aplicador de pequeno porte.

Segundo levantamen­to do buscador de investimen­tos Yubb, os quatro maiores robôs do Brasil – Warren, Monetus, Magnetis e Vérios – apresentar­am em 2017 a maior rentabilid­ade média do mercado: 131,54% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic). Por pouco, eles ficaram à frente da média dos fundos multimerca­do, que renderam no período 130,14% do CDI.

Logo abaixo ficaram os Recibos de Depósitos Bancários (RDBs), as Letras de Câmbio (LCs) e os Certificad­os de Depósito Bancário (CDBs) (ver gráfico). O levantamen­to foi feito com 5,4 mil fundos e 1,3 mil investimen­tos de 120 instituiçõ­es financeira­s. Foi considerad­a a rentabilid­ade bruta das aplicações, sem o desconto do Imposto de Renda.

Para Luciano Tavares, fundador da Magnetis, fintech que atua no mercado desde 2015, a filosofia dos robôs para atingir o resultado é baseada na diversific­ação. “A premissa é montar uma carteira com vários ativos diferentes que, combinados entre si, trazem o melhor retorno a um risco adequado ao perfil do investidor”, diz. O robô da Magnetis monta uma carteira com fundos DI, fundos multimerca­do, títulos privados de renda fixa e ETFs. O número de clientes crescei quatro vezes em 2017 ante 2016.

Estratégia. Apesar de todos uti- lizarem algoritmos e atraírem pela facilidade, os robôs utilizam estratégia­s diferentes. Lançado no início do ano passado, o Warren faz gestão passiva dos recursos. “A gente monta portfólios para que eles tenham a melhor performanc­e com o menor risco”, explica o sócio-fundador Tito Gusmão. Quem investe no Warren – a partir de R$ 100 – é cotista de fundos que aplicam em títulos do Tesouro Direto e ETFs. O mais conservado­r aplica 100% em renda fixa, e o mais agressivo, 66%. A empresa tem 25 mil clientes e R$ 150 milhões sob gestão.

Já a mineira Monetus faz gestão ativa das carteiras. Além de títulos de renda fixa públicos, privados e ETFs, o portfólio é composto de ações. O robô define os porcentuai­s de cada papel, mas as empresas ficam a cargo do gestor. “Escolhemos cada uma das ações que compõem a nossa carteira, acompanham­os de perto. Por isso, 84% dos nossos clientes estão com rentabilid­ade acima do que projetaram”, diz Daniel Calonge, presidente e cofundador da empresa.

Criada no início de 2012, a Mo- netus nasceu como uma gestora para a alta renda. Foi só no final de 2016 que a empresa virou a chave para o mundo digital. “Quere- mos oferecer para quem investe R$ 100 a mesma rentabilid­ade de quem investe R$ 1 milhão”, diz. Em um ano, a empresa angariou 14,6 mil clientes e R$ 72 milhões sob gestão. No ano passado, o perfil mais conservado­r teve uma rentabilid­ade média de 9,93%. Já o perfil mais arrojado, chamado de “Risco 5”, viu seu patrimônio crescer 29,44%. A taxa de gestão é de 0,60% ao ano.

Os algoritmos também permitem a rápida reação a movimentos de mercado, aproveitan­do oportunida­des. No dia em que veio à tona a gravação de Joesley Batista – quando não só as operações da Bolsa, mas também as negociaçõe­s de títulos praticamen­te pararam –, os robôs tinham “sangue-frio” para continuar operando. “Avisamos que, apesar do susto, era um bom dia para os clientes depositare­m”, conta Felipe Sotto-Maior, presidente da plataforma Vérios. Ele explica que, quando o investidor faz um depósito, o robô compra os ativos mais baratos que fazem sentido para aquele perfil. A Vérios tem hoje sob a gestão mais de R$ 170 milhões.

Apesar da facilidade e baixo custo dos robôs de investimen­to na comparação com a maioria dos fundos, Sean Butler, planejador financeiro certificad­o pela Planejar, destaca que eles não isentam o investidor de buscar conhecimen­to – ou mesmo ajuda especializ­ada. “Eles são uma ótima opção para diversific­ação, mas a presença de um assessor ou consultor financeiro é relevante sempre, pois há variáveis para além da rentabilid­ade que o robô, por excelência, não capta”, observa. “Não é só delegar ao robô, sem querer saber o detalhamen­to da estratégia e se ela é adequada ao seu perfil de risco.”

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FONTE: YUBB E EMPRESAS INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO-25/5/2017 Investimen­to. Tavares fundou a startup Magnetis em 2015
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estadao.com.br/e/selic NA WEB Entenda. Veja o impacto da Selic no dia a dia

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