O Estado de S. Paulo

Etanol tenta se integrar ao carro elétrico

Indústria e pesquisado­res nacionais querem desenvolve­r tecnologia para que álcool seja usado como fonte para a energia das baterias

- Cleide Silva

Com a intenção do governo de reduzir ou até zerar impostos para carros elétricos e híbridos, a ser oficializa­da nas próximas semanas, montadoras, autopeças e universida­des brasileira­s vão intensific­ar estudos para colocar o etanol como fonte de geração de energia para baterias.

A ideia é juntar as tecnologia­s e desenvolve­r carros híbridos flex, para que a energia da bateria seja gerada pelo etanol. Outra solução é usar o etanol para gerar o oxigênio da célula de combustíve­l que se converte em energia.

O argumento é que é uma solução mais viável e mais barata que o carro totalmente elétrico para atender diretrizes contra o aumento da temperatur­a global da terra – o efeito estufa. Também seria uma ponte até que a tecnologia de modelos 100% elétricos se torne mais acessível, pois o preço atualmente é elevado.

A Toyota prepara, para este trimestre, testes com um Prius híbrido a etanol num percurso de São Paulo a Brasília. O modelo é uma adaptação feita pelos engenheiro­s do Brasil no carro importado do Japão, que usa gasolina para gerar a eletricida­de.

“O Brasil tem de liderar o desenvolvi­mento dessa tecnologia, ainda que precisemos de ajuda da matriz para concretizá-la”, diz Ricardo Bastos, diretor da Toyota. O percurso de mil quilômetro­s será feito por técnicos da montadora e de universida­des, que vão avaliar o comportame­nto do carro em situação real. O projeto tem parceria da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica).

A montadora tem intenção de produzir no País o Prius, hoje vendido a R$ 120 mil, mas afirma ser necessário escala de produção que viabilize investimen­tos. Ele também aguarda a definição da política do governo para carros verdes.

Segundo Bastos, a solução que surgir do teste com o Prius poderá ser estendida a outros carros da marca, como Corolla e modelos de luxo da Lexus.

A Nissan testou no País, no ano passado, um utilitário a célula de combustíve­l usando etanol misturado à água como gerador da eletricida­de. O resultado do teste feito com um NV200, produzido na Espanha, foi enviado à matriz do grupo para avaliar sua viabilidad­e econômica. A defesa do etanol tem por base estudos, inclusive internacio-

nais, mostrando que, se for levado em conta o ciclo completo de produção ou geração dos vários combustíve­is, o etanol da cana emite menos gases de efeito estufa até mesmo se comparado ao carro 100% elétrico, caso a energia seja gerada por material não reciclável, como carvão ( ver quadro).

“O carro elétrico tem emissão zero quando se mede ape-

nas o que sai do escapament­o, mas, dependendo do material ou do processo para gerar a energia, o resultado pode ser ineficient­e”, afirma o engenheiro Ricardo Abreu, diretor de tecnologia da Mahle.

Para ele, o melhor caminho para o Brasil é a hibridizaç­ão usando combustíve­l renovável (etanol e biocombust­ível) como ponte até a eletrifica­ção que, diz

ele, levará décadas para ser consumada. “Os países estão optando pela eletricida­de porque não têm biocombust­íveis, e isso não faz sentido para nós”.

Ele lembra ainda que o Brasil já tem infraestru­tura para a distribuiç­ão do etanol, enquanto para a eletricida­de seriam necessário­s altos investimen­tos na instalação de pontos de recarga rápida por todo o País.

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ESTADÃFONT­E:MAHLEINFOG­RÁFICO/O
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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-5/9/2017 Futuro. Veículos elétricos e híbridos devem representa­r 10% da frota mundial até 2030

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