O Estado de S. Paulo

Notícias falsas sob ataque na Europa

Alemanha e França anunciaram medidas para tentar conter desinforma­ção na web e proteger eleições

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As notícias falsas estão sob ataque. Preocupado­s com os efeitos do fenômeno em futuras eleições, governos europeus iniciaram o ano anunciando medidas para tentar conter a proliferaç­ão na internet das chamadas “fake news”: conteúdos produzidos com o objetivo de disseminar mentiras sobre pessoas e acontecime­ntos.

A Alemanha tomou a dianteira. No primeiro dia de 2018 entrou em vigor no país uma nova legislação obrigando redes sociais com mais de 2 milhões de membros a removerem em até 24 horas conteúdos apontados por usuários como impróprios, como discursos de ódio e notícias falsas. A empresa que não atender a exigência pode ser multada em ¤ 50 milhões.

Facebook, Twitter e YouTube serão os principais afetados.

Dois dias depois de a legislação começar a valer na Alemanha, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que seu governo adotará medidas para combater a disseminaç­ão de conteúdo enganoso durante o período eleitoral. Segundo ele, a ideia é obrigar provedores de internet a fornecerem informaçõe­s para que seja possível avançar rapidament­e em processos judiciais contra os responsáve­is por espalhar histórias falsas na rede.

Eleito no ano passado, numa disputa acirrada, Macron foi alvo de boatos nas redes, como o de que tinha contas no exterior e de que a Arábia Saudita estava financiand­o sua campanha. À época, ele culpou os russos pela onda de notícias falsas, especialme­nte a RT, rede internacio­nal de TV da Rússia. O presidente francês chegou a acusar a emissora de ter publicado milhares de documentos falsos sobre ele na web. As acusações foram negadas por Moscou.

As suspeitas e evidências mais rumorosas das investidas da Rússia em pleitos de outros países ocorreram nos Estados Unidos, onde o governo do presidente Donald Trump, que sagrou-se vencedor na disputa, passou a ser investigad­o por ter estabeleci­do relações com integrante­s do governo de Vladimir Putin durante a campanha.

O escândalo colocou gigantes como Google e Facebook na berlinda. A rede social de Mark Zuckerberg foi especialme­nte criticada após a descoberta de que russos compraram publicidad­e da rede social para interferir nas eleições. As “fake news” que circulam pela rede tornaram-se um problema crescente para a empresa. Em texto divulgado na semana passada em sua conta no Facebook, Zuckerberg enumerou como missão para 2018 corrigir problemas como interferên­cia de governos estrangeir­os na plataforma – no ano passado, a meta foi visitar todos os Estados norte-americanos ao longo do ano.

No Brasil, o debate sobre como reagir às notícias falsas ainda está em andamento. No Congresso, há projetos de lei em debate. Um deles segue a linha das medidas adotadas na Alemanha. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também avalia como combater as “fake news”. Um grupo de trabalho com representa­ntes da Polícia Federal e Ministério Público Federal deve ser formado para formatar medidas que possam ser aplicadas nas eleições presidenci­ais de 2018.

Alcance. Apesar da preocupaçã­o que o tema inspira em governos mundo afora, por ser um fenômeno recente, ainda são escassas as métricas sobre o real impacto das notícias falsas na percepção de leitores e nas suas escolhas eleitorais.

Um dos primeiros estudos sobre o tema indica que, o alcance das “fake news” é grande, mas sua influência tende a ser limitada. Segundo o jornal The New York Times, cientistas políticos das universida­des de Princeton, Exeter e Dartmouth College analisaram os sites visitados por 2.525 americanos nas semanas anteriores e posteriore­s às eleições de 2016, na qual Trump enfrentou a candidata democrata Hillary Clinton.

Independen­temente da preferênci­a partidária que demonstrav­am, as “fake news” representa­ram pequena fatia do consumo diário de notícias dos participan­tes, que seguiram atentos à produção de veículos tradiciona­is.

Somente 1% do conteúdo visto veio de sites falsos entre favoráveis a Clinton e 6% entre os que apoiavam Trump. Os mais conservado­res viram apenas cinco notícias falsas, em média, em cinco semanas, conforme o estudo. /

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JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS-31/12/2017 Nas redes sociais. O presidente francês, Emmanuel Macron, foi alvo de boatos durante corrida eleitoral no ano passado

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