O Estado de S. Paulo

Impedida de tomar posse, Cristiane não desiste de cargo

Governo recorre da suspensão da nomeação da filha de Jefferson para o Ministério do Trabalho; posse estava marcada para ontem

- BRASÍLIA TÂNIA MONTEIRO, CARLA ARAÚJO, RAFAEL MORAES MOURA e AMANDA PUPO

O presidente Michel Temer decidiu recorrer ao STF para nomear a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) como ministra do Trabalho, depois que o TRF da 2.ª Região manteve a suspensão da posse. Cristiane foi condenada a pagar R$ 60 mil por dívidas trabalhist­as a um ex-motorista. A deputada descartou a desistênci­a do cargo: “Não é uma possibilid­ade”, disse.

O presidente Michel Temer decidiu ontem recorrer ao Supremo Tribunal Federal para nomear a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) como ministra do Trabalho, depois que o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) manteve a suspensão da posse. Filha do ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, Cristiane foi condenada a pagar R$ 60 mil por dívidas trabalhist­as a um ex-motorista. Mesmo depois do imbróglio jurídico, o PTB manteve a indicação da deputada ao cargo.

Apesar do desgaste político, Temer deixou para o partido a decisão sobre a indicação do ministério com o objetivo de evitar perder apoios na votação da reforma da Previdênci­a, prevista para 19 de fevereiro. A bancada, que inclui PTB, PROS, PSL e PRP, tem 26 deputados. Até agora, o governo calcula ter 260 votos para a reforma – são necessário­s pelo menos 308 votos para aprovação da mudança nas regras previdenci­árias.

Em busca desses votos, o governo ainda espera a indicação do PRB, um dos partidos do Centrão, para o cargo de ministro da Indústria e Comércio, que está vago desde o último dia 3, depois que Marcos Pereira pediu demissão para se dedicar a “questões partidária­s”.

Para o Palácio do Planalto, uma saída seria que Roberto Jefferson desistisse da indicação da filha, o que não ocorreu. No início da tarde, antes do horário previsto para a posse – 15h –, Temer recebeu em seu gabinete Jefferson, Cristiane e o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), para confirmar que a Advocacia-Geral da União (AGU) recorreria ao STF.

Jovair apadrinhou o deputado Pedro Fernandes (PTBMA), primeiro indicado para o Ministério do Trabalho e que foi vetado pelo ex-presidente José Sarney (MDB-AP). Ontem, o líder referendou o nome de Cristiane. “O presidente está tranquilo, mas desapontad­o, chateado por uma decisão de primeira instância atingir um poder que é dele. O Ministério quem monta é ele”, declarou.

Jovair ainda defendeu a indicada. “Você sabe quantas ações jurídicas, quantas ações trabalhist­as contra juízes, desembarga­dores, promotores, deputados estaduais, deputados federais existem no Brasil? Faço um desafio: se todos que têm uma ação trabalhist­a não puderem ficar nos seus postos, nós teremos muita vacância no Brasil.”

‘Politizaçã­o’. Depois de dizer que a Justiça do Trabalho “é uma excrescênc­ia que só existe no Brasil”, Jovair reconheceu o desgaste, mas disse que não via problema em Cristiane assumir mesmo com a condenação. “Ela está discutindo na Justiça. Perdeu, paga. Não perdeu, não paga”, afirmou o líder do PTB.

No Planalto, o imbróglio judicial é visto como mais um efeito da “politizaçã­o da Justiça” que traz o desgaste da imagem do governo e dificulta a aprovação da reforma da Previdênci­a.

Mesmo com a indefiniçã­o sobre a posse, a cerimônia no Planalto foi organizada e alguns convidados chegaram a ir até o local, mas não foram autorizado­s a subir ao salão.

Recurso. O pedido da AGU para reverter a liminar que impediu a posse será analisado pela presidente do STF, Cármen Lúcia, que está no plantão. Ontem, o vice-presidente do TRF2, desembarga­dor federal Guilherme Couto de Castro, manteve a decisão do juiz federal Leonardo da Costa Couceiro, da 4.ª Vara Federal de Niterói (RJ), que havia suspendido a nomeação. Para Castro, a suspensão não é capaz de causar “grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública”.

O caso foi analisado pelo vice-presidente do TRF-2, depois de o presidente do tribunal, desembarga­dor federal André Fontes, se declarar suspeito. O Código de Processo Civil (CPC) prevê que o juiz poderá se declarar suspeito por motivo de foro íntimo, “sem necessidad­e de declarar suas razões”.

Para a AGU, a decisão do juiz de Niterói usurpa a “competênci­a concedida ao Executivo, colocando em risco a normalidad­e institucio­nal do País”. /

“Você sabe quantas ações trabalhist­as contra juízes, promotores, deputados existem no Brasil? Se todos que têm uma ação trabalhist­a não puderem ficar nos seus postos, teremos muita vacância no Brasil.”

Jovair Arantes (GO)

LÍDER DO PTB

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Sem cerimônia. Salão Nobre do Palácio do Planalto, onde Cristiane Brasil tomaria posse ontem como ministra do Trabalho: convidados foram embora
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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Espera. Alguns convidados chegaram a ir ao Palácio do Planalto para a posse de Cristiane

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