O Estado de S. Paulo

Temer supera antecessor­es e é recordista de MPs

Presidente supera Dilma e Lula com 1,16 medida com força de lei por semana; parlamenta­res reclamam e Planalto alega ‘urgência econômica’

- Marianna Holanda / COLABORARA­M CECÍLIA DO LAGO e RICARDO GALHARDO

O presidente Michel Temer superou seus antecessor­es e é recordista em edição de medidas provisória­s desde 2001. Temer editou, em média, 1,16 MP por semana, ante 1,09 de Lula e 0,78 de Dilma Rousseff. A discussão sobre o tema divide congressis­tas.

Em pouco mais de um ano e meio de mandato, o presidente Michel Temer superou seus antecessor­es e alcançou o posto de recordista em edição de medidas provisória­s (MPs) desde 2001. Levantamen­to feito pelo Estado mostra que o emedebista editou, em média, mais de uma MP por semana (1,16). Números que superam os índices já considerad­os altos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva, com 1,09 MP por semana, e Dilma Rousseff, que fechou seu governo com 0,78.

Só na última semana do ano passado, Temer editou seis medidas provisória­s, alcançando 91 desde maio de 2016 – 39 foram convertida­s em lei e a maioria, 44, ainda está em tramitação. Criticado pela Procurador­ia-Geral da República e deputados federais, o instrument­o tem força de lei e deve ser usado, segundo a Constituiç­ão, em casos de relevância e urgência.

Ontem a Coluna do Estadão revelou que o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDBCE), deu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prazo de sete dias para recebiment­o das MPs antes do vencimento – uma medida tem força de lei por 45 dias e, após esse período, caduca.

O Planalto, em nota, alegou que, em função do “tempo de governo limitado e pela urgência das ações econômicas, as medidas provisória­s se fazem necessária­s”. A discussão sobre o tema chega ao Congresso e divide os partidos que apoiam e os que são contrários ao governo. Para a oposição, há abuso na edição das medidas. Já líderes da base defendem o instrument­o para burlar a suposta burocracia no andamento de propostas.

Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), a edição recorde de MPs revela uma “voracidade” do governo em desmontar situações criadas pela gestão anterior. “O governo abusa das MPs por não poder contar com o rito normal do Legislativ­o e por depender de uma base gulosa”, disse. Também da oposição, o deputado Carlos Zarattini (SP) afirmou que o governo não tem perspectiv­a de continuida­de e o excesso dessas medidas trava a pauta.

Na base do governo, o deputado Arthur Lira (PP-AL) reconheceu que houve aumento “maior do que razoável” no envio de MPs e algumas matérias poderiam ter sido propostas como projeto de lei. Já o deputado Efraim Filho (PB), líder do DEM, avaliou que MPs ajudam a dar celeridade às propostas. “Esse governo se propôs desde sempre a ser um governo de travessia. Por isso a celeridade das MPs para aprovar as transforma­ções propostas.”

Assuntos. Cerca de 80% das medidas envolvem temas de origem econômica e tributária ou tratam de vários assuntos juntos. Um exemplo é a MP da Privatizaç­ão da Eletrobrás (814), de 28 de dezembro de 2017.

Com o objetivo de retirar da lei o trecho que proíbe a desestatiz­ação da empresa, a medida suscitou novas críticas do aliado e presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já vinha falando em abuso de MPs.

“Medidas provisória­s devem ser apenas para matérias relevantes e urgentes. A venda de um ativo precisa do aval do Congresso antes. Vivemos em uma democracia”, afirmou o presidente da Câmara ao Estado.

Além de Lula e Dilma, outras gestões também tiveram médias inferiores, mas, como houve uma mudança nas regras em 2001, essas MPs mais antigas foram desconside­radas pelo Estado. Em 2001, uma Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) barrou a “farra das MPs”, em que medidas eram reeditadas até passarem no Congresso.

As médias semanais de José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso são inferiores à de Temer, mas esse número pode mudar, se forem considerad­as as reedições de cada medida.

Foro. Uma das MPs que mais provocaram polêmica foi a que deu status de ministério à Secretaria-Geral da Presidênci­a – e, assim, foro privilegia­do a Moreira Franco (MDB), que comanda a pasta e foi citado na delação da Odebrecht. O instrument­o escolhido pelo presidente foi contestado no Supremo Tribunal Federal pelo então procurador­geral, Rodrigo Janot, que alegou falta de urgência.

Temer apresentou duas MPs, uma vez que a primeira corria risco de caducar pela demora do Congresso em avaliá-la. Mais recentemen­te, em dezembro, a atual procurador­a-geral, Raquel Dodge, também alegou inconstitu­cionalidad­e da lei gerada pela segunda medida.

Outro momento em que o governo tentou emplacar mudanças via MP, mas desistiu, foi com a proposta de extinção da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), entre Pará e Amapá. A pressão veio de ambientali­stas e celebridad­es. Apesar da desistênci­a da extinção da Renca, a MP virou lei.

“O governo abusa das MPs por depender de uma base gulosa.”

Chico Alencar (PSOL-RJ)

DEPUTADO FEDERAL

“Esse governo se propôs ser um governo de travessia.”

Efraim Filho (DEM-PB)

DEPUTADO FEDERAL

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