O Estado de S. Paulo

Maia monta equipe e tenta alianças de olho no Planalto

Presidente da Câmara costura apoio de pelo menos quatro partidos e já tem estrutura de pré-campanha

- Eliane Cantanhêde Igor Gadelha / BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já monta equipe, flerta com legendas e inicia uma série de viagens, dentro e fora do País, depois de assumir sua pré-candidatur­a à Presidênci­a, informam Eliane Cantanhêde e Igor Gadelha. No sábado, ele embarca para os Estados Unidos, onde terá reunião na ONU, e segue depois para encontro da OEA no México. Sua agenda também inclui idas ao Espírito Santo e a Santa Catarina, para tentar consolidar alianças com pelo menos quatro partidos para eventual candidatur­a. Estão na mira PP, Solidaried­ade, PSD, PR e PRB, além de PSDB e MDB – o tucano Antonio Anastasia (MG) é o nome preferido por Maia para compor a chapa. Ele também começou a montar uma estrutura de pré-campanha, com marqueteir­o e economista­s, e tem dito que não adianta assumir posições avançadas em temas polêmicos, “porque a sociedade não aceita”.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desceu do muro, assumiu sua pré-candidatur­a à Presidênci­a da República em outubro e já monta até equipe. No próximo sábado, Maia embarca para os Estados Unidos para estrear como presidenci­ável no ambiente internacio­nal, enquanto encorpa sua agenda de viagens internas com o objetivo de consolidar uma aliança de pelo menos quatro partidos para a largada. Além do DEM, tem conversas avançadas com PP e Solidaried­ade e namora PSD, PR e PRB, sonhando em atrair apoios em dois dos maiores partidos, PSDB e MDB.

Em sua viagem para Washington e Nova York, Maia terá encontros com o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), o português Antonio Guterres, dará entrevista para o jornal The Washington Post e pretende incluir um jantar com jornalista­s e diplomatas. Depois, seguirá para Cancún, para um fórum econômico. Na volta a Brasília, ele poderá assumir a Presidênci­a, caso Michel Temer mantenha a ida ao Fórum de Davos, na Suíça.

A primeira reação de Maia quando seu nome começou a ser considerad­o como “candidato de centro” foi refutar a ideia. Primeiro, avançou e depois recuou nas articulaçõ­es para assumir a vaga de Temer caso as denúncias do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vingassem. Dizia e repetia que era cedo para almejar algo tão pretensios­o e argumentav­a: “Sei do meu tamanho”. Porém, a pressão aumentou e ele agora assume que é pré-candidato.

Ontem de manhã, Maia recebeu um telefonema do ex-presidente do PSDB senador Aécio Neves (MG) para elogiar uma frase sua ao jornal O Globo: “Eu não tenho problema de correr risco, mas não estou disposto a participar de uma aventura”. O jogo de palavras, entre “risco e aventura”, remete a um discurso histórico do avô de Aécio, Tancredo Neves, que foi eleito presidente por votação indireta, em 1985, mas ficou doente e nunca assumiu. Na ligação, Aécio comemorou: “Você está começando bem!”.

Atrair parcelas do PSDB para sua eventual campanha presidenci­al faz parte da estratégia de Maia, que não admite nem para os aliados mais próximos, mas tem até um nome tucano para integrar como vice sua chapa: o de Antonio Anastasia, que é aliado de primeira hora de Aécio, foi governador de Minas, é considerad­o um bom técnico e um senador muito respeitado.

Além de potencialm­ente puxar uma ponta tucana, é de um Estado que faz uma conexão entre o centro-sul e o Nordeste. Anastasia tem feito declaraçõe­s a favor do governador Geraldo Alckmin, mas continua na mira de Maia, com ajuda de Aécio. Uma alternativ­a é a senadora Ana Amélia (PP-RS).

Na agenda de viagens do presidente da Câmara, ele vai hoje ao Espírito Santo, onde participa de reunião com governador Paulo Hartung (MDB) e o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE). Amanhã, Maia emenda uma viagem a Santa Catarina para almoçar com o governador Raimundo Colombo (PSD) e o ex-senador Jorge Bornhausen, que foi um dos fundados do antigo PFL, articulou a mudança para DEM e, depois, liderou a debandada de democratas para o PSD. Esse almoço é uma largada para a reunião dos dois partidos em outubro.

Equipe. Além das viagens, Maia já começou a montar uma estrutura de pré-campanha e tem um marqueteir­o e economista­s de sua confiança para dar um tom profission­al a seu discurso. Uma coisa que tem dito, com base em pesquisas, é que não adianta assumir posições excessivam­ente avançadas em temas polêmicos, como drogas, “porque a sociedade não aceita”. É assim que pretende se apresentar em contraposi­ção ao conservado­rismo de Jair Bolsonaro, mas sem tentar ir para o lado oposto, do que chamam de “vanguardis­mo”.

A estruturaç­ão profission­al da campanha foi discutida por Maia em almoço ontem com Mendonça Filho e o prefeito de Salvador, ACM Neto, que vai assumir a presidênci­a do DEM em fevereiro. Os dois são os principais formulador­es da pré-campanha até agora, mas Maia recebe reforços de recém-chegados ao DEM, como os deputados Heráclito Fortes (PI), Danilo Forte (CE) e Tereza Cristina (MS), que vai assumir a forte Frente Parlamenta­r da Agropecuár­ia.

A iniciativa privada, aliás, tem prioridade na estratégia de Maia, que tem tido reuniões com empresário­s do eixo RioMinas-São Paulo e tem sido requisitad­o por representa­ntes do setor financeiro para expor suas ideias. Uma das ações de Maia neste recesso parlamenta­r tem sido desfazer versões de que estaria trabalhand­o, por baixo dos panos, contra a reforma da Previdênci­a, com votação prevista para 19 de fevereiro. “Todo mundo sabe que eu sou o primeiro a defender a reforma”, insiste ele, lembrando que tem enfrentado a onda pública contrária às mudanças.

A reforma é um dos marcos para o eventual lançamento oficial da candidatur­a, que só poderá ocorrer a partir de março, até mesmo para garantir o apoio de no mínimo quatro partidos. Isso seria a alavanca inicial, para ganhar consistênc­ia e depois conquistar apoios dos demais partidos de centro, que têm hoje preferênci­a por Alckmin.

Meirelles. E a candidatur­a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles? Para Maia e a cúpula do DEM, Meirelles é “candidato dele próprio”, pois nem terá apoio do governo, nem do próprio partido, o PSD. Se o governo for mal, nenhum ministro terá chances. Se for bem, Maia aposta que Temer se lançará. As relações entre o deputado democrata e o ministro da Fazenda sofreram, inclusive, um abalo nesta semana, por causa do empurra-empurra da “flexibiliz­ação” da chamada “regra de ouro”, que impede o governo de emitir dívida para cobrir despesas correntes. Meirelles atribuiu a Maia, Maia atribuiu a Meirelles, principalm­ente depois que o governo foi obrigado a recuar, diante da avalanche de críticas.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO–28/11/2017 Articulaçã­o. Além de PP e Solidaried­ade, Maia coloca em seu radar PSD, PR e PRB; deputado já assume candidatur­a

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