O Estado de S. Paulo

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O consumo continua puxando a reativação da economia, comprovam dados do varejo.

Seria louvável a criação de uma empresa de comunicaçã­o genuinamen­te pública que, por ter esta natureza, pudesse apoiar manifestaç­ões culturais relevantes que não dispõem do devido espaço nos meios ditos comerciais, além de estimular a produção de conteúdo nacional, tanto educativo como cultural, e servir ao público como fonte de informação confiável, dotada de independên­cia editorial.

Para azar do contribuin­te, não foi imbuído deste espírito que o ex-presidente Lula da Silva criou a Empresa Brasil de Comunicaçã­o (EBC), por meio de medida provisória editada em 2007. A EBC, um conglomera­do que reúne duas agências de notícias, dois canais de televisão, um portal na internet e sete emissoras de rádio, foi concebida tão somente para servir como veículo de propaganda político-partidária sob o manto de um jornalismo dissimulad­o, que contou com os serviços de profission­ais regiamente pagos para servir ao lulopetism­o, e não ao País.

Cabe lembrar que a EBC foi criada dois anos depois da eclosão do escândalo do mensalão, quando os métodos criminosos empregados por Lula da Silva e seus acólitos para a sustentaçã­o de um projeto de poder começaram a vir a público por intermédio da chamada grande imprensa, que passou, então, a ser considerad­a uma inimiga daquele “governo popular”.

Tanto é assim que Lula da Silva lamenta até hoje não ter conseguido que fosse aprovada durante os governos petistas a chamada “regulação dos meios de comunicaçã­o”, seja lá o que isso signifique.

Uma década depois de sua criação, a EBC vive uma séria crise financeira e apresenta resultados operaciona­is pífios em todos os veículos que compõem o conglomera­do de comunicaçã­o, sobretudo a TV Brasil, que registra traços de audiência. Em média, a EBC gasta anualmente R$ 680 milhões. Metade deste montante se destina ao pagamento da folha salarial dos cerca de 2.500 servidores da estatal.

Para contornar o problema, a empresa lançou um Programa de Demissão Voluntária (PDV) que pretende atingir 10% do quadro funcional da estatal até fevereiro. Além disso, a empresa planeja uma completa reformulaç­ão de suas grades de programaçã­o em 2018, ano da Copa do Mundo da Rússia, cujos jogos pretende transmitir.

O caso da TV Brasil, chamada à época de seu lançamento de “TV Lula”, é particular­mente imoral. Muito distante do modelo ideal de uma televisão pública, voltada antes de tudo – perdoe o leitor a obviedade – para o interesse nacional, tornou-se um sorvedouro de dinheiro público sem que o propósito que deveria inspirar a sua criação tenha sido remotament­e alcançado. Aliás, mesmo a infeliz inspiração que a concebeu, qual seja, servir como uma espécie de “contrapont­o” do lulopetism­o à chamada grande mídia, só se justifica pelos delírios megalomaní­acos de Lula da Silva, pois como imaginar que uma emissora com baixíssima audiência poderia alcançar tal objetivo?

Com média de 1 ponto de audiência, a TV Brasil pode ser considerad­a um fracasso. Não que a busca desenfread­a pela audiência seja uma motivação primária de uma TV pública. No mundo, este patamar gira em torno de 2%. Entretanto, a estrutura técnica e funcional que a suporta – um “mastodonte”, nas palavras de Laerte Rímoli, presidente da empresa – não se justifica ante os resultados apresentad­os à sociedade.

Se quando foi criada a preocupaçã­o maior era de que a EBC se tornasse um mero instrument­o de propaganda político-partidária dos governos lulopetist­as, hoje a principal crítica que lhe pode ser feita é a mesma que recai sobre outras empresas estatais: a sua transforma­ção em abrigo de apaniguado­s políticos e fonte inesgotáve­l de desperdíci­o de dinheiro público.

Não se deve negar a importânci­a de uma empresa pública de comunicaçã­o, sobretudo em um país como o Brasil, onde ainda há regiões em que viceja o “coronelism­o eletrônico”. Por isso mesmo, o futuro da EBC deve ser discutido seriamente, tendo como foco o interesse público.

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