O ESPORTE COMO FERRAMENTA POLÍTICA
Ao longo da história, Jogos serviram como propaganda ou afirmação de países anfitriões
Quando Pierre de Coubertin recuperou os Jogos Olímpicos, uma das semelhanças importadas da Grécia Antiga foi o caráter político do evento. Em 1936, Adolf Hitler seria um dos primeiros a entender o poder midiático e político da Olimpíada, criando a tradição de levar a tocha pelo país antes dos Jogos.
Mas ele não contava com Jesse Owens, que ridicularizou a teoria da superioridade da raça ariana. Em sua autobiografia, lançada em 1970, o americano lembra que havia queimado todos seus saltos na fase classificatória e restava apenas uma oportunidade. Sentindo os problemas com os saltos de Owens, seu maior adversário, o alemão Luz Long, lhe deu uma dica: “Faça um risco antes da linha oficial e a use como parâmetro”. E funcionou. Naquela noite, Owens foi até o quarto de Long para agradecer e eles passaram horas conversando. Para a surpresa do americano, ele descobriu que Long não tinha nenhuma simpatia pelas teorias de Hitler.
Na disputa, Long levou Hitler o público ao delírio ao saltar 7,87 metros, algo que jamais havia conseguido. Mas Owens foi além e, no sexto salto, atingiu 8,06 metros. Long morreu na Sicília lutando pelo Exército nazista, em 1943. Owens voltou aos EUA e foi recebido como herói. Anos depois, em suas memórias, ele contou que continuava sendo obrigado a entrar pela porta de trás dos ônibus de sua cidade.
Os Jogos também foram usados na Guerra Fria, quando americanos e russos decidiram transmitir mensagens políticas. A Olimpíada de Moscou, em 1980, foi boicotada pelos EUA em razão da invasão soviética do Afeganistão, no ano anterior. O Kremlin deu a resposta em 1984 e não mandou atletas para os Jogos de Los Angeles.
No entanto, a Olimpíada também serviu para acelerar processos de reconciliação. Em 1964, Tóquio recebeu o evento cerca de 20 anos após a 2.ª Guerra e usou a chance para se apresentar ao mundo de maneira pacífica. O mesmo impacto foi sentido por Barcelona quando, em 1992, apresentou uma nova imagem da Espanha, apagando os anos da ditadura de Franco.