Embrapa demite pesquisador após críticas
Em artigo no ‘Estado’, Zander Navarro disse que estatal ‘resiste em promover mudanças urgentes’
O pesquisador Zander Navarro, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi demitido na segunda-feira, depois de questionar os rumos da instituição de pesquisa e seu presidente, Maurício Antônio Lopes. Ao ‘Estadão/Broadcast’, Navarro classificou a decisão como “arbitrária” e disse ter contratado advogado para pedir sua reintegração ao cargo. Ele estava na Embrapa desde 2011, após 36 anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Os primeiros questionamentos públicos de Navarro foram feitos no artigo “Por favor, Embrapa: acorde!”, publicado na seção Espaço Aberto, do Estado, no dia 5 deste mês. No texto, o pesquisador critica a fragmentação das pesquisas, a falta de foco e de estratégia na Embrapa. Navarro classifica a missão da empresa de “entregar valor à sociedade” como “uma vaga afirmação de inocentes noções” e “uma fuga da realidade”, e pede ao presidente da estatal para “esclarecer à sociedade a inquietante pergunta: “Afinal, para que serve mesmo a Embrapa, uma das raras estatais totalmente dependentes do Tesouro?”.
O pesquisador questionou a substituição de dois terços dos pesquisadores em concursos recentes e indagou “como justificar que uma gigantesca e cara empresa pública, sustentada por toda a sociedade, trabalhe cada vez mais e quase que exclusivamente para os ricos segmentos do empresariado rural?”.
Em comunicado encaminhado aos gestores da estatal e obtido pelo Estadão/Broadcast, o presidente da Embrapa afirma que o artigo de Navarro “tipifica falta gravíssima à luz das normas de comportamento e de conduta da Empresa”. Lopes avalia que o texto prejudica o processo de remodelação em curso na Embrapa.
“Afirmações irresponsáveis, sem nenhum fundamento, contidas no artigo, podem jogar por água abaixo todo o esforço que já dura dois anos, e está prestes a ser finalizado. Assim, eu gostaria de informar a todos que a diretoria executiva tomará todas as medidas cabíveis, à luz das nossas normas e procedimentos, para que esse tipo de comportamento, irresponsável e destrutivo, seja definitivamente erradicado da nossa Empresa”, declarou Lopes.
Em carta, também encaminhada aos gestores, Navarro respondeu ao presidente da Embrapa reafirmando e ampliando as críticas feitas no artigo. Ele disse que há um anseio dos funcionários pela refundação da estatal.
Repercussão. Em comunicado interno Lopes atribuiu a decisão de demissão à diretoria executiva pelo fato de o pesquisador “ignorar sistematicamente os códigos de ética e de conduta da Empresa”. Essa também foi a resposta da assessoria da estatal aos questionamentos feitos pelo Estadão/Broadcast. A Embrapa informou que não comentaria o artigo.
O ministro Blairo Maggi, da Agricultura, pasta à qual a Embrapa é ligada, afirmou que o assunto é interno da estatal e não se pronunciaria.
O pesquisador disse, por telefone, de Brasília, que havia sido demitido “por emitir sua opinião”. “Vou pedir a reintegração e tenho forte esperança em voltar”, concluiu.