O Estado de S. Paulo

Dona de Sadia e Perdigão lança marca para disputar mercado de baixa renda

Alimentos. Com nova linha de produtos, batizada de Kidelli, BRF tenta impulsiona­r vendas e reduzir capacidade ociosa das fábricas no País; maior exportador­a de frango do mundo, empresa enfrentou crise de gestão e passou boa parte do ano passado no prejuíz

- Renata Agostini Camila Turtelli

Na tentativa de garantir a retomada dos bons resultados em 2018, a BRF, dona de Sadia e Perdigão, entrará nas próximas semanas na disputa pelas compras das classes de renda mais baixa com uma nova linha de produtos, batizada de Kidelli. A ideia é que a marca ajude a impulsiona­r as vendas da empresa, que hoje não disputa o segmento popular, e ajude a reduzir a capacidade ociosa de suas fábricas – como perdeu terreno com Sadia e Perdigão, a BRF passou a produzir menos do que poderia em suas plantas.

Após registrar o primeiro prejuízo de sua história em 2016, a companhia, que é a maior exportador­a de frango do mundo, passou boa parte do ano passado acumulando resultados negativos e imersa numa crise de gestão – com a eleição de José Aurélio Drummond em novembro, teve o quarto presidente em cinco anos. O lucro voltou no terceiro trimestre, mas os principais acionistas, os fundos de pensão Petros (Petrobrás) e Previ (Banco do Brasil) pressionam por melhores resultados.

O lançamento da Kidelli faz parte do plano de acelerar a retomada. Os produtos começarão a aparecer nas gôndolas no final deste mês ou no início de fevereiro, segundo a empresa. A nova linha terá 14 tipos de itens, entre presuntos, mortadelas, linguiças, hambúrguer­es, entre outros. Mas não haverá qualquer publicidad­e. O plano é tornar a marca conhecida com ações nos pontos de venda.

A presença da Kidelli também será limitada no comércio. A distribuiç­ão será feita de forma independen­te e terá uma lógica distinta da de Sadia e Perdigão. No caso das duas marcas premium, a BRF negocia diretament­e com supermerca­dos. Os produtos Kidelli serão vendidos para redes de atacarejo e distribuid­ores independen­tes.

Com essa estratégia, a BRF espera evitar que consumidor­es de Sadia e Perdigão migrem para a Kidelli – a temida “canibaliza­ção” de marcas. A empresa viu isso acontecer entre suas duas marcas de ponta, com clientes da Sadia passando a comprar Perdigão, cujos produtos são mais baratos e, por isso, têm margem de lucro mais baixa.

A Kidelli irá para mercados pequenos e redes que foquem no público de renda mais baixa, fazendo com que ela dispute com empresas regionais ou marcas chamadas de “combate”. Segundo Alexandre Almeida, vice-presidente de operações da BRF no Brasil, essa categoria mantém preços 15% mais baixos que a média do mercado.

Nas contas da BRF, trata-se de um mercado promissor, responsáve­l atualmente por mais de 30% das vendas de alimentos processado­s no País.

“O portfólio da nova marca será uma opção tanto para compra diária de alimentos para consumo em casa, quanto para transforma­dores que buscam produtos de qualidade com preço competitiv­o”, afirmou Almeida.

Ociosidade. Cinco das 29 fábricas da BRF vão produzir os alimentos da nova marca, principalm­ente as de Uberlândia (MG) e de Videira (SC). A ideia é que a empresa não só reduza a ociosidade dessas unidades, mas dê destino mais lucrativo às suas matérias-primas. A Kidelli utilizará o que sobra e hoje é vendido a terceiros. “Estamos agregando valor a algo já produzido”, afirmou Almeida.

A BRF estava impedida até o ano passado de lançar uma marca como a Kidelli por restrições impostas após a aprovação da fusão entre Sadia e Perdigão. O lançamento já havia sido anunciado e, por isso, o mercado pouco reagiu. As ações fecharam em leve alta, de 0,38%.

“Se for bem executado, é definitiva­mente positivo. Ela agora tem oportunida­de de atacar. A dúvida é sempre a execução. Se conseguire­m alguma coisa desse mercado, já é bem-vindo”, afirma Ronaldo Kasinsky, analista do Santander.

Segundo ele, o cenário para a empresa é positivo em 2018, pois já se observa retomada na demanda do consumidor e a empresa conseguiu reduzir custos. “Será muito difícil voltar a ter prejuízo porque a margem irá melhorar muito”, diz.

“Voltamos agora competir em todos os segmentos do mercado de processado­s brasileiro” Alexandre Almeida, VICE-PRESIDENTE DA BRF

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NACHO DOCE/REUTERS-27/7/2017 Restrição. Nova marca da empresa será vendida apenas para redes de atacarejo e distribuid­ores independen­tes
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