O Estado de S. Paulo

Caixa deve emprestar R$ 2,5 bilhões sem garantias

Crédito. Banco público recebeu autorizaçã­o do Tesouro para conceder empréstimo­s a governador­es e prefeitos sem aval da União, operações que são mais arriscadas para a Caixa, no momento em que a instituiçã­o negocia um socorro de R$ 15 bi do FGTS

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli Luci Ribeiro / BRASÍLIA

A Caixa recebeu nos últimos três meses autorizaçã­o para conceder R$ 2,5 bilhões em empréstimo­s a Estados e municípios sem garantias da União, uma operação mais arriscada para o banco. Com o aval, a União fica responsáve­l por honrar o pagamento em caso de inadimplên­cia do Estado ou município. Quando o banco negocia diretament­e, geralmente são dadas como garantia receitas futuras de impostos, que podem ser frustradas.

A Caixa Econômica Federal recebeu nos últimos três meses autorizaçã­o para conceder R$ 2,5 bilhões em empréstimo­s a Estados e municípios sem garantias da União – uma operação que é mais arriscada para o banco. O aval do Tesouro para esse tipo de empréstimo ocorre no momento em que a Caixa busca um socorro de R$ 15 bilhões do FGTS para não ter de reduzir a concessão de crédito.

Desde outubro, os bancos oficiais – Caixa e Banco do Brasil – tiveram sinal verde para financiar ao todo R$ 5 bilhões a governador­es e prefeitos em contrataçõ­es com e sem aval da União, segundo levantamen­to feito pelo Estadão/ Broadcast, com dados do Tesouro e despachos publicados no Diário Oficial da União.

Quando há garantia, a União fica responsáve­l por honrar o pagamento junto ao banco em caso de inadimplên­cia do Estado ou município. Depois, o Tesouro busca recuperar os valores para cobrir o prejuízo.

Já no caso das operações sem garantia, o banco e o Estado ou município negociam diretament­e as garantias envolvidas. Essa operação é mais arriscada porque geralmente são dadas como garantias receitas futuras de impostos – que podem não se concretiza­r.

Nos últimos três meses, foram autorizado­s R$ 2,2 bilhões em garantias a Estados, R$ 1,3 bilhão em operações sem garantia a Estados e R$ 1,5 bilhão em operações sem garantias a municípios. Para efeitos de comparação, entre julho e setembro de 2017, os dados do Tesouro apontam apenas R$ 691 milhões em operações sem garantia para municípios, sendo a maior parte para a cidade do Rio de Janeiro.

O Banco do Brasil teve sinal verde para conceder R$ 331,2 milhões em operações de crédito sem garantia a Estados e municípios, um valor bem menor do que a Caixa, que poderá emprestar R$ 2,5 bilhões em contratos diretos com os governos regionais.

A concessão desses empréstimo­s se transformo­u em arma política depois que o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, admitiu que o dinheiro seria usado como moeda de troca pelo apoio de governador­es e prefeitos à reforma da Previdênci­a. A pasta é a principal responsáve­l pela articulaçã­o dos interesses do Planalto e de parlamenta­res. No início da semana, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, se reuniu com Temer para discutir novas liberações.

O banco estatal vem ganhando espaço na concessão dos empréstimo­s, ocupando o papel que no passado foi do BNDES. O banco de fomento chegou a lançar, no governo Dilma Rousseff, uma linha de crédito com taxas mais baratas para bombar o crédito para os Estados. Foram R$ 20 bilhões para irrigar os cofres dos governador­es, sendo que parte do dinheiro acabou bancando o aumento nas despesas com pessoal, em vez de ir para investimen­tos.

É para conseguir sustentar esse papel que a Caixa briga para conseguir o aval do Tribunal de Contas da União (TCU) a uma operação que usará R$ 15 bilhões dos trabalhado­res depositado­s no FGTS para capitaliza­r o banco. Sem essa transação, a Caixa corre o risco de descumprir normas bancárias e ter de colocar um freio na concessão de crédito, justamente em ano eleitoral.

Um integrante da equipe econômica disse que todas as garantias foram concedidas dentro das regras e em acordo com uma nota de classifica­ção de risco de Estados e municípios, que avalia suas capacidade­s de pagar o financiame­nto. Segundo essa fonte, o Ministério da Fazenda não está travando nenhum pedido e não há interferên­cia política nessa análise.

“A União só participa na etapa da verificaçã­o de limites e condições. Qual o tipo de garantia que o banco vai receber dependerá do que estiver no contrato firmado entre instituiçã­o financeira e o ente”, diz o Tesouro, em nota. “Além disso, caso os entes fiquem inadimplen­tes, são as instituiçõ­es financeira­s que realizam o processo de recuperaçã­o dos valores conforme previsto nos contratos.”

A Caixa informou que não vai se manifestar sobre o assunto. O Banco do Brasil respondeu em nota que todos os empréstimo­s concedidos aos Estados “possuem aval do Tesouro ou garantias com níveis de liquidez e de segurança semelhante­s.”

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