Inflação fica em 2,95% em 2017, abaixo do piso da meta
Alta de 2,95% no IPCA ficou abaixou do piso da meta do governo mesmo com resultado acima do esperado no mês de dezembro
Apesar do aumento de 0,44%, acima das expectativas, em dezembro, a inflação oficial do País fechou 2017 em 2,95%, menor alta anual desde 1998. Planos de saúde (aumento de 13,53%), gasolina (10,32%) e eletricidade (10,35%) foram os itens que exerceram maior pressão sobre o orçamento das famílias, mas as altas foram compensadas pela safra agrícola recorde, o que fez os alimentos terminarem o ano 1,87% mais baratos.
A inflação oficial no País pisou no acelerador em dezembro, dando fim a uma sequência de meses de boas surpresas, mas a alta de 0,44% foi suficiente para garantir a menor alta anual desde 1998, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com aumento de 2,95%, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou abaixo do piso da meta do governo. Isso obrigou o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, a se explicar em carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
“Dez itens responderam por 87% do IPCA de 2017. Esses mesmos itens tinham respondido por 32% do IPCA no ano anterior. Apenas três deles não são itens monitorados (pelo governo)”, disse Fernando Gonçalves, gerente na Coordenação de Índices de Preços do IBGE.
A alta de 13,53% nos planos de saúde exerceu a maior pressão sobre o orçamento das famílias em 2017, devido aos reajustes concedidos pela Agência Nacional de Saúde (ANS). A segunda maior pressão foi da gasolina, 10,32% mais cara, por causa da nova política de preços da Petrobrás, que repassa às refinarias as oscilações do dólar e das cotações internacionais do petróleo. Pelo mesmo motivo, o gás de botijão subiu 16%.
Outro preço monitorado, o da eletricidade, subiu 10,35% no ano passado, impulsionado pela cobrança extra pelo acionamento das usinas térmicas, cuja energia é mais cara. A alta seria ainda maior não fosse o desconto de até 19,50% aplicado sobre as contas de luz em abril, por decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para compensar os consumidores pela cobrança indevida para remunerar a usina de Angra 3.
Tudo isso foi compensado pela safra agrícola recorde, que fez os alimentos encerrarem o ano 1,87% mais baratos, a primeira deflação anual da história. Mesmo assim, os alimentos encareceram em dezembro.
Juros. Isoladamente, a alta de 0,44% no IPCA de dezembro foi puxada pelas passagens aéreas e pela gasolina. O resultado veio acima das expectativas de analistas do mercado financeiro consultados pelo Estadão/Broadcast e arrefece as projeções mais otimistas, que previam um segundo corte na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 7,0%) este ano.
O cenário da maioria dos economistas inclui só mais um corte, talvez para 6,75% ao ano. “O cenário para a inflação continua bom”, afirmou o economista Daniel Gomes da Silva, do Modal Asset Management. “A dúvida é se (o BC) cortará mais ou não (a Selic) em março.”
Para André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o principal risco para 2018 está associado, de novo, aos preços administrados, como passagens de ônibus, conta de luz e gasolina. Ainda assim, ele projeta alta de 5,5% nos preços administrados, abaixo dos 7,99% registrados em 2017.
Gonçalves, do IBGE, disse que a previsão para a safra agrícola é um pouco menor, mas ainda “boa”. Dessa forma, uma inflação muito baixa pode ter ficado para trás, mas sem pressões que impliquem disparada de preços.
Pressão •
“Dez itens responderam por 87% do IPCA de 2017. Esses itens tinham respondido por 32% do IPCA de 2016. Só três não são monitorados (pelo governo).” Fernando Gonçalves
GERENTE DO IBGE