O Estado de S. Paulo

UM EXÉRCITO MENOS DURÃO

Exército britânico quer mudar perfil de recruta

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Campanha do Exército no Reino Unido tenta mostrar lado “soft” e atrair recrutas de uma diversidad­e maior de gênero, etnia e religião.

“Posso ser gay no Exército?”, “posso praticar minha fé nas Forças Armadas?”, “tenho permissão para chorar?”, “preciso ser um superherói?”. Estas são perguntas feitas em uma campanha publicitár­ia do Exército do Reino Unido exibida nos últimos dias na TV. Os vídeos, narrados por verdadeiro­s soldados contando suas histórias, fazem parte de uma série de propaganda­s feitas para atrair recrutas de uma diversidad­e maior de gêneros, etnias e religiões.

A campanha, que custou £ 1,6 milhão, é uma tentativa de reverter o esvaziamen­to constante das Forças Armadas nos últimos dez anos, provocado pelas mudanças demográfic­as no Reino Unido e pela alta taxa de empregos em outros setores.

O tom da campanha, no entanto, provocou críticas no Reino Unido, de todos os espectros políticos. O Exército foi acusado de tentar enganar recrutas, sugerindo que oferece ajuda para pessoas com problemas emocionais. Reem AbuHayyeh, um pacifista da instituiçã­o de caridade Medact, disse que se o Exército estivesse preocupado com a saúde mental dos soldados, deixaria de recrutar menores de 18 anos.

Wayne Sharrocks, ex-soldado e membro da Peace Pledge Union, uma ONG pacifista britânica, disse que castigos físicos brutais são a regra no Exército. “O medo é instilado desde o início. Tudo isso tem impactos negativos na saúde dos soldados.”

Já o coronel da reserva Richard Kemp, ex-comandante das operações britânicas no Afeganistã­o, afirmou que a campanha não resolveria o problema do recrutamen­to. “O Exército, como o restante do governo, está sendo forçado a seguir o caminho do politicame­nte correto”, disse ao programa BBC Breakfast. “O que é importante é que o Exército esteja cheio de soldados com vontade de estar ali. É secundário que reflita a composição da sociedade.”

Falando em um programa da rádio BBC 4, o general Nick Carter, chefe das Forças Armadas britânicas, disse que o Exército precisava mudar. “Estamos em 2018, esta é uma campanha voltada para pessoas deste século”, afirmou. “Estamos recebendo novos tipos de candidatos, precisamos ajustar a abordagem. Os recrutas tradiciona­is são brancos, homens, entre 16 e 25 anos, e essa base mudou. É preciso buscar pessoas sensíveis. A demografia do país mudou e precisamos chegar a uma comunidade mais ampla para encontrar os talentos certos.”

“Estamos em 2018, esta é uma campanha voltada para pessoas deste século. É preciso buscar pessoas sensíveis” Nick Carter

CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS BRITÂNICAS

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