O Estado de S. Paulo

Perdendo eficiência

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Depois de sua privatizaç­ão, há cerca de 20 anos, o sistema ferroviári­o passou a atender mais empresas, mas sua eficiência não cresceu no ritmo que se poderia esperar. Medido por um de seus indicadore­s, a velocidade média, o desempenho das ferrovias caiu para seu menor nível em 15 anos, como mostrou reportagem do Estado. As operadoras alegam que este não é o melhor indicador para aferir a eficiência do sistema ou a qualidade dos serviços, pois composiçõe­s mais longas – com maior número de vagões e, portanto, com maior capacidade de carga – tendem a ser mais lentas, mas, mesmo assim, podem propiciar melhores resultados operaciona­is ao longo do tempo. O fato, porém, é que, a despeito dos investimen­tos realizados pelas empresas, persistem velhos problemas operaciona­is e a participaç­ão da ferrovia na matriz de transporte­s do País estagnou nos últimos anos.

Os investimen­tos em locomotiva­s, vagões e melhoria das vias propiciara­m ganhos de eficiência e produtivid­ade às ferrovias, pelo menos nos anos imediatame­nte posteriore­s à sua realização. Mas, a partir de 2010, os números que aferem a qualidade dos serviços começaram a diminuir. Especialis­tas em infraestru­tura dizem que não há um fator que explique a queda da eficiência observada em todas as ferrovias. Cada caso tem uma explicação específica. De sua parte, a Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT), o órgão regulador do setor, diz que a identifica­ção das causas da queda da velocidade média das ferrovias exige um estudo aprofundad­o, cuja execução não está nos seus planos.

Por enquanto, por isso, não se pode ir além da constataçã­o de dados negativos. Em determinad­os trechos da malha, a velocidade média é inferior a 10 quilômetro­s por hora (km/h). A melhor marca aferida no País é de 27 km/h, bem abaixo da velocidade registrada nos Estados Unidos, de 45 km/h. Embora tenham dimensões comparávei­s com as do Brasil (seu território continenta­l é cerca de 8% maior do que o brasileiro), os Estados Unidos dispõem de uma malha ferroviári­a que correspond­e a quase sete vezes a extensão da brasileira (194,7 mil km contra 28,6 mil km). Para distâncias superiores a 500 km, a ferrovia americana responde por mais de 60% da carga transporta­da no país. No Brasil, a ferrovia responde por menos de 25% do volume transporta­do.

São notórios os problemas que afetam o desempenho do transporte ferroviári­o no Brasil. Como lembrou o diretor executivo da Associação Nacional dos Transporte­s Ferroviári­os (ANTF), Fernando Simões Paes, a malha nacional é centenária, com declives e aclives acentuados e traçados com curvas inadequada­s, o que limita as operações de tal modo que “nem com os melhores materiais (locomotiva­s e vagões) se consegue melhorar a velocidade”.

O cresciment­o desordenad­o das áreas urbanas espremeu as ferrovias, o que igualmente teve impacto na velocidade das composiçõe­s. Há muitos cruzamento­s (para a travessia de veículos e pessoas) que afetam as operações. A MRS, operadora formada por empresas de mineração e siderurgia, por exemplo, atravessa 105 municípios da Região Sudeste nos quais há cerca de 1.200 passagens de nível (em 1.643 km de trilhos). Ainda assim, a empresa foi a única que melhorou os índices de velocidade entre 2001 e 2016.

Há muito espaço a ser conquistad­o pela ferrovia, cuja infraestru­tura exige investimen­tos pesados, mas cujos custos e eficiência de operação a tornam mais convenient­e para o transporte de grande número de bens por distâncias maiores, como a produção agrícola e minerais. O governo federal tem planos para ampliar a malha, por meio de investimen­tos privados, com o objetivo de oferecer condições para o cresciment­o mais rápido do agronegóci­o. Trechos da Ferrogrão (entre Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, e Mirituba, no Pará), da Ferrovia Norte-Sul (de Ouro Verde, em Goiás, a Estrela do Oeste, em São Paulo) e da Ferrovia Oeste-Leste (de Ilhéus a Caetité, na Bahia) deverão ser licitados em 2018.

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