O Estado de S. Paulo

Justiça no Rio mantém suspensão de posse de ministra.

Antes de recorrer ao Supremo, governo decide esperar decisão de tribunal no Rio; magistrado nega pedido da AGU e da defesa da deputada

- RIO BRASÍLIA / FÁBIO GRELLET, CARLA ARAÚJO, RENAN TRUFFI e TÂNIA MONTEIRO

O juiz federal Vladimir Vitovsky negou ontem à noite o pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e da defesa de Cristiane Brasil (PTB-RJ) para rever a ordem que proíbe a deputada de tomar posse como ministra do Trabalho. Cristiane, que é filha do presidente do PTB e condenado no mensalão, Roberto Jefferson, tomaria posse anteontem, mas na segunda-feira a cerimônia foi suspensa por decisão liminar (provisória) do juiz federal Leonardo da Costa Couceiro, da 4.ª Vara Federal de Niterói (RJ).

Ele atendeu ao pedido apresentad­o em ação popular com o argumento de que seria uma afronta à “moralidade administra­tiva” nomear para o Ministério do Trabalho uma pessoa condenada em reclamaçõe­s trabalhist­as. Cristiane foi condenada a pagar R$ 60 mil por dívidas trabalhist­as a um ex-motorista. Mesmo depois do imbróglio jurídico, o PTB manteve a indicação da deputada ao cargo.

Ontem, o governo mudou a estratégia e resolveu recorrer primeiro ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) antes de ir ao Supremo Tribunal Federal (STF), como havia anunciado na véspera.

O Palácio do Planalto resiste a desistir da nomeação de Cristiane para evitar enfrentame­nto com o PTB e principalm­ente com Jefferson. Auxiliares do governo Temer citam o passado do ex-deputado para lembrar que ele tem influência na bancada e poderia causar problemas na votação da reforma da Previdênci­a em caso de descontent­amento – a votação está prevista para 19 de fevereiro.

Auxiliares próximos ao presidente têm ressaltado que precisa partir do PTB qualquer sugestão de mudança de nome. Segundo um integrante da base aliada, o melhor dos mundos seria Cristiane desistir de assumir o cargo na Esplanada.

Votos. Independen­temente da nomeação da deputada para o Ministério do Trabalho, o PTB não entregará todos seus votos a favor da reforma da Previdênci­a no Congresso. Ao contrário

da tese propagada pelo Planalto – a argumentaç­ão dada pelo presidente para manter a pasta sob o comando do PTB é garantir os votos –, o partido está longe do consenso no tema.

“O PTB pode até ter maioria a favor da Previdênci­a, mas não pode garantir a totalidade dos votos. Sou contra a reforma, minha posição é clara. Eu não aceito essa reforma da maneira como ela está colocada”, disse o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), um dos contrários à proposta.

A repercussã­o negativa em torno do episódio trouxe à tona críticas ao fato de a bancada do PTB não ter sido consultada quanto ao nome de Cristiane. Os deputados relatam “constrangi­mento” porque, ao contrário do que ocorreu na escolha do deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), eles não foram sondados pela cúpula sobre o posto ficar com Cristiane.

Dos 16 titulares que integram atualmente a bancada do partido, quatro já se posicionar­am oficialmen­te contra a alteração das regras da aposentado­ria. São necessário­s no mínimo 308 votos para aprovar a reforma.

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LÚCIO BERNARDO JUNIOR/CÂMARA DOS DEPUTADOS–4/5/2017 Negativa. A deputada Cristiane Brasil e a AGU recorreram ao TRF, mas não conseguira­m suspender liminar dada por juiz

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