O Estado de S. Paulo

Onda de protestos se espalha por 20 cidades da Tunísia

Centro judaico foi atacado na Ilha de Djerba; desde domingo, 237 pessoas foram presas em manifestaç­ões contra crise econômica

- TÚNIS / REUTERS, AP e W.POST

Manifestan­tes desafiaram ontem a repressão das autoridade­s da Tunísia e tomaram as ruas da capital, Túnis, e de pelo menos outras quatro cidades do país. Desde o domingo, protestos demonstran­do revolta contra o aumento do custo de vida foram registrado­s em mais de 20 cidades – e foram reprimidos com violência. Na terça-feira, uma escola judaica foi atacada com bombas incendiári­as na Ilha de Djerba.

O estopim das manifestaç­ões foi um aumento de impostos aplicado pelo governo tunisiano desde 1.º de janeiro para diminuir o déficit fiscal no país e satisfazer o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), que exigiu ajustes em troca de um empréstimo de US$ 2,9 bilhões concedido em 2016. A elevação das taxas foi repassada aos preços de bens básicos de consumo, como gasolina, alimentos, cartões telefônico­s e uso de internet – o que causou insatisfaç­ão generaliza­da.

Após um pequeno protesto realizado no domingo, as manifestaç­ões começaram a se intensific­ar. As autoridade­s reprimiram a revolta com gás lacrimogên­eo e disparos de balas de borracha em Túnis e em Tebourba, uma pequena cidade próxima à capital, onde um manifestan­te foi morto na segunda-feira. Depois da morte, as manifestaç­ões se espalharam outros locais na Tunísia.

Delegacias, carros de polícia, prédios governamen­tais e bancos foram incendiado­s. Barricadas feitas de pneus em chamas bloquearam vias e mercados foram saqueados durante a revolta. O Exército acionou efetivos para reforçar a segurança em várias localidade­s. Pelo menos 237 pessoas foram presas em meio aos protestos – entre elas, dois militantes radicais islâmicos, na cidade de Nefzta.

Nas imediações de Túnis, onde um supermerca­do Carrefour foi saqueado, confrontos e incêndios ocorreram nas cidades de Attadhamou­n, Intilaka, Zahrouni e Zayatine, que ficaram cobertas por nuvens de fumaça, segundo relato da rádio Mosaique FM. Jovens manifestan­tes com os rostos cobertos tentaram invadir lojas, mas foram repelidos pela polícia. Um vídeo gravado em Ben Arous, subúrbio de Túnis, mostrou saqueadore­s saindo de um supermerca­do com grande quantidade de mercadoria­s.

Repressão. “O que ocorreu é uma violência que não podemos aceitar. O Estado permanecer­á firme”, afirmou o primeiro-ministro tunisiano, Youssef Chahed, em declaração no rádio, após visitar cidades em que ocorreram confrontos entre manifestan­tes e as forças do governo.

O porta-voz do Ministério do Interior tunisiano, Khalifa Chibani, declarou à agência de notícias TAP que 58 policiais ficaram feridos e 57 carros oficiais foram danificado­s. O funcionári­o não estimou, porém, quantos manifestan­tes se feriram.

Habitantes de Djerba, onde não houve protestos, afirmaram que radicais se valeram da ausência da polícia na cidade, que foi acionada para reforçar a segurança em outras localidade­s, para realizar o ataque contra

o centro judaico de educação religiosa. “Desconheci­dos aproveitar­am a oportunida­de e arremessar­am coquetéis molotov na entrada da escola”, afirmou

Perez Trablesi, líder da comunidade judaica da ilha, que abriga judeus há mais de 2 mil anos. Ninguém ficou ferido.

A mais antiga sinagoga da África

fica em Djerba. O local foi alvo de um ataque do grupo terrorista Al-Qaeda, em 2002, que deixou 21 mortos.

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SOFIENE HAMDAOUI/AFP Revolta. Confronto violento entre polícia e manifestan­tes deixou um morto em Tebourba

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