O Estado de S. Paulo

‘Temos de pensar se vale a pena ter banco público no País’

- BRASÍLIA

O presidente do Insper, Marcos Lisboa, afirma que o uso da Caixa para financiar Estados e municípios repete a estratégia equivocada do passado, que faz com que o banco estatal sempre necessite de aportes do Tesouro Nacional.

O governo está retomando o uso dos bancos públicos financiar Estados e municípios? Acho equivocado dar esses empréstimo­s. Nós já vivemos no Brasil vários momentos de bancos públicos em dificuldad­e por terem concedido crédito de forma exagerada, inclusive, no passado recente, para os próprios Estados e municípios. Na medida do possível, os Estados devem conseguir recursos no mercado pelas suas próprias pernas. A Caixa já atravessa um momento difícil, teve a sua rentabilid­ade prejudicad­a pelas operações estimulada­s pela política dos últimos anos. Esse momento já deveria ter passado.

As indicações recentes mostram a repetição de um erro? Tudo indica que sim. Acho inclusive que temos que começar a discutir se vale a pena ter banco público no Brasil, dado o fracasso que tem sido a utilização deles por parte dos gestores de política pública.

Qual é o risco das operações feitas sem garantia da União?

A gente está assistindo agora. A Caixa concedeu créditos, está com problemas para satisfazer requisitos regulatóri­os e ela está tendo que ter acesso a recursos da sociedade, nesse caso a proposta, que na minha visão é mais um equívoco, via recursos do FGTS.

Quando tem garantia da União, o Tesouro reembolsa o banco em caso de inadimplên­cia. Sem garantia, é mais difícil?

Mas de qualquer maneira, a União é responsáve­l pela solvência da Caixa. Se a Caixa tem problemas, quem tem que aportar recursos é a União. Isso já aconteceu várias vezes no passado, nos anos 90 a gente já atravessou problemas como esse. Agora mesmo estão usando um subterfúgi­o, que é um empréstimo do FGTS que é completame­nte equivocado, não é papel do FGTS emprestar recursos para a Caixa enfrentar dificuldad­es pela sua política equivocada de crédito.

É uma imprudênci­a neste momento?

Acho que em qualquer momento. Bancos públicos, sobretudo quando é empréstimo para o poder público no Brasil, têm sido fonte de problemas. Acaba dando por razão errada, não porque é uma boa oportunida­de, não porque é rentável ou tem boa política para ser executada, e com frequência resulta em problemas para o próprio setor público. / I.T.

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