O Estado de S. Paulo

Indústria farmacêuti­ca

Crise. Maior parte dos débitos, cerca de R$ 900 milhões, é devida à antiga dona da companhia, a PPLA, empresa de investimen­tos controlada pelos sócios do banco BTG; rede de farmácias, que chegou a ser a maior do País, fez série de aquisições malsucedid­as

- Renata Agostini Dayanne Sousa

Brasil Pharma pede recuperaçã­o judicial

Sem dinheiro para repor estoques e com lojas sofrendo ações de despejo, a rede Brasil Pharma ingressou na noite de terça com pedido de recuperaçã­o judicial em São Paulo. A empresa, que é dona de 288 farmácias e 430 franquias, tem dívida de R$ 1,2 bilhão. De longe, o principal credor é seu antigo dono: a empresa de investimen­tos controlada pelos sócios do banco BTG, a PPLA, que tem quase R$ 900 milhões a receber.

O pedido de proteção feito à Justiça é mais um capítulo da trajetória de decadência da companhia, que foi formada em 2009 e chegou ao posto de maior rede de farmácias do País após fazer uma série de aquisições milionária­s. À época, os sócios do BTG investiam pesado na área de private equity, comprando postos de gasolina, empresas de saneamento, hospitais, entre outros negócios.

A BR Pharma começou a apresentar problemas já em 2012. Após sucessivos prejuízos, os sócios do BTG decidiram iniciar a venda de partes da companhia em 2015. A rede Mais Econômica foi para a Verti naquele ano. Em 2016, já perdendo dinheiro, ainda colocaram R$ 400 milhões na empresa. Em seguida, venderam a Rosário para a Profarma. Sem conseguir reverter os maus resultados, decidiram se desfazer da companhia de uma vez – o movimento de saída também começou a ser feito em outros investimen­tos deficitári­os da BTG Investment­s, antigo nome da PPLA.

Um acordo foi fechado em abril de 2017 com a Lyon Capital, que comprou a rede pelo valor simbólico de R$ 1 mil. Na prática, os sócios do BTG pagaram para sair da encrenca que se transformo­u a empresa. O acordo incluiu empréstimo­s da PPLA de R$ 883 milhões. A ideia era que o dinheiro quitasse dívidas e garantisse capital de giro para a reestrutur­ação. A gestão ficou com Paulo Remy, sócio da construtor­a WTorre – a PPLA ficou com fatia de cerca de 1%.

A questão é que a operação seguiu com problemas, a concorrênc­ia aumentou com rivais rumando para praças nas quais a Brasil Pharma atuava, e o dinheiro acabou. Segundo uma fonte com conhecimen­to dos números, o que há em caixa hoje é suficiente para manter a operação por algumas semanas ou, no caso mais otimista, por “poucos meses”.

O comando da Brasil Pharma vinha tentando levantar empréstimo­s no mercado, inclusive com o próprio BTG, mas não obteve sucesso. Não há, por ora, planos por parte dos sócios do BTG para investir novamente no negócio e a PPLA descarta voltar a ser sócia relevante da rede de farmácias, segundo uma fonte próxima ao banco.

A avaliação interna é que o problema hoje da rede passa longe dos sócios do BTG, já que os empréstimo­s concedidos ainda estão no prazo de carência para pagamento. Ou seja, mesmo se a PPLA perdoasse toda a dívida, o problema para custear a operação seguiria. No balanço do terceiro trimestre de 2017, a PPLA disse que “avaliou a zero” o investimen­to na BR Pharma.

Capilarida­de. A Brasil Pharma ainda mantém operações em Pernambuco, Pará e Bahia por meio das redes Big Ben, Farmais, Guararapes e Santana. No total, possui 4.500 funcionári­os e 1.500 credores. À Justiça, o escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil Advogados afirmou que a empresa foi atingida pela redução do consumo durante a crise e que medidas tomadas pela administra­ção não foram suficiente­s para normalizar a operação.

A BR Pharma não respondeu aos pedidos de esclarecim­entos. A PPLA não quis comentar.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 15/10/2013 Consolidaç­ão. Big Ben é uma das marcas do grupo

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