O Estado de S. Paulo

Sem lágrimas, adeus ao céu de brigadeiro na inflação

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Pela primeira vez desde que o sistema de metas foi instituído, o IPCA encerrou o ano abaixo do piso. Avalio que a modesta alta de 2,95% foi reflexo, pela ordem, de: (i) a transição climática do fenômeno El Niño para o atual clima moderado (que derrubou os preços agropecuár­ios a partir do final de 2016), (ii) a relativa estabilida­de cambial (a despeito de alguns solavancos políticos que geraram desvaloriz­ações com surpreende­nte vida curta) e (iii) os efeitos defasados sobre a formação dos preços de dois anos consecutiv­os de atividade econômica em queda, o que não chancelou reajustes mais intensos.

Talvez o maior símbolo da excepciona­lidade deste IPCA de 2017 seja o grupo Alimentaçã­o e Bebidas, que encerrou o ano em raríssima deflação: a queda de -1,87% destoa da média de +9,0% ao ano registrada até então nesta década. Um céu de brigadeiro que, tudo indica, está ficando para trás. As cotações de algumas commoditie­s agrícolas, que chegaram à sua mínima histórica recente em 2017, começam a mostrar recomposiç­ão. Contudo, este movimento é gradual, já que o clima neutro é o mais provável para 2018, o que sinaliza, na ponta final, uma evolução apenas moderada desse grupo do IPCA.

Este prognóstic­o para os alimentos explica, em parte, a ausência de lágrimas do título. Adicionemo­s outro fator: os principais indexadore­s de preços, IPCA, INPC e IGP-M (este último fechou 2017 em deflação) apontam reajustes mais moderados, que poderão pavimentar esta aceleração cadenciada do IPCA.

Não por acaso, o pequeno reajuste implementa­do ao salário mínimo (inspirado no INPC), sinaliza que o cresciment­o do rendimento médio real poderá ficar aquém do observado em 2017, desautoriz­ando maiores reajustes.

Deste modo, um ano com cresciment­o do PIB que não superará +3,0% concomitan­te a uma inflação convergind­o para o centro da meta dispensa, além dos lenços de papel, altas na Selic.

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