O Estado de S. Paulo

Preço dos alimentos cai pela primeira vez

Safra recorde colhida no ano passado foi o que mais influencio­u a queda de 1,87% em 2017; as frutas, por exemplo, ficaram 16,52% mais baratas

- Vinicius Neder Daniela Amorim / RIO

Pela primeira vez desde a criação do Plano Real, em 1994, um ano terminou no Brasil com preços de alimentos mais baratos. Dentro do IPCA, índice de inflação calculado pelo IBGE, o grupo Alimentos e Bebidas recuou 1,87% em 2017, contribuin­do para a economia brasileira registrar a menor inflação desde 1998. Por trás do movimento está a maior produção agrícola da história. Conforme economista­s especializ­ados em agropecuár­ia, o campo viveu condições perfeitas na safra colhida no ano passado.

“A agropecuár­ia, mais uma vez, ajudou a economia a ter musculatur­a”, afirmou Renato Conchon, coordenado­r do Núcleo Econômico da Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA).

Em primeiro lugar entre as condições perfeitas, veio o clima. “Uma condição climática favorável nunca foi tão generaliza­da”, disse a consultora independen­te Amaryllis Romano, especializ­ada em agropecuár­ia. Segundo a economista, o clima foi o ideal ao longo de toda a safra (do verão iniciado em 2016 ao segundo semestre de 2017) e em todas a regiões produtoras.

Completara­m as condições perfeitas o fato de o câmbio ter se mantido estável ao longo da safra, os custos controlado­s na época do plantio e o mercado internacio­nal favorável.

Com a oferta maior, os alimentos para consumo em casa caíram 4,85% ano passado. As frutas foram destaque, com queda média de 16,52% nos preços. Ainda assim, vários produtos apenas viram os preços devolverem as altas de 2016. As frutas haviam subido 22,67% naquele ano.

Nos últimos dois meses, a ambulante Ivanise da Silva Lima, de 25 anos, não viu os preços das goiabas que vende no Centro do Rio caírem, mas, em Magé, na região metropolit­ana do Rio, onde mora, a vendedora já percebeu um alívio. “A carne deu uma maneirada. Devagarinh­o, os preços estão caindo”, disse Ivanise, ontem, pouco antes do almoço, quando o dia de sol no Rio alimentava esperanças de boas vendas.

O motorista Anderson Vaz de Freitas, de 46 anos, também sente preços mais baratos, mas não de forma generaliza­da. “Alguns produtos ficaram mais baratos, tipo café, arroz, feijão. Não é em todo supermerca­do, depende do lugar, tem de procurar o melhor preço”, disse Freitas.

André Braz, pesquisado­r do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), lembrou que nem todos os consumidor­es percebem a queda nos preços dos alimentos da mesma forma por motivos distintos. Entre os mais pobres, o desemprego derruba a renda da família, que, mesmo diante de preços menores, é obrigada a gastar menos. Para os mais ricos, os gastos com alimentos no supermerca­do têm menos peso no orçamento, consumido por altas nos planos de saúde (13,53% mais caros em 2017) e mensalidad­e escolar (alta acumulada de 8,37%).

Segundo os economista­s ouvidos pelo Estado, a deflação de alimentos não se repetirá em 2018. Os custos de produção, especialme­nte de sementes e agrotóxico­s, estavam mais caros no plantio, no fim do ano passado, disse Conchon, da CNA. Além disso, dificilmen­te o clima será tão favorável. Mesmo assim, não está no radar dos especialis­tas uma grande seca capaz de derrubar a produção agrícola e fazer os preços voltarem a disparar.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Narua. Ivanise diz que os preços estão caindo devagarinh­o

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