O Estado de S. Paulo

Receita perde R$ 8 bilhões com fraude

Fisco vai aumentar a fiscalizaç­ão para coibir o uso de títulos públicos falsos para abater dívida tributária; prejuízo pode chegar a R$ 50 bi

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA CONSULTOR ECONÔMICO

A Receita Federal vai intensific­ar as ações de combate a fraudes que usam títulos públicos falsos ou prescritos como crédito para abater o pagamento de tributos devidos ao Fisco. O órgão já detectou a falsa compensaçã­o de R$ 8 bilhões em tributos, um dinheiro que é de difícil recuperaçã­o, reconhece o coordenado­r-geral de Fiscalizaç­ão, Flávio Vilela Campos. “É um valor muito alto. Se não atuarmos com força, isso cresce, vai se alastrando.”

A Receita também já conseguiu mapear pelo menos R$ 50 bilhões em supostos títulos públicos registrado­s em cartórios brasileiro­s pelos maiores grupos que atuam nesse tipo de fraude. O valor dá uma dimensão do tamanho do dano potencial às contas públicas no futuro, caso a prática não seja coibida. O registro em cartório é uma estratégia empregada para criar uma “cortina de boa-fé” para os papéis falsos e ganhar a confiança dos compradore­s dos créditos, que são “podres”.

A Receita Federal criou um grupo de trabalho com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para intensific­ar as fiscalizaç­ões e coibir o avanço dessas organizaçõ­es. A ação já identifico­u pelo menos oito grandes grupos que praticam esse tipo de fraude no Brasil. Eles atuam como intermediá­rios entre os contribuin­tes e a Receita, vendendo os supostos créditos tributário­s para abater a dívida e cobrando um porcentual de comissão sobre o “desconto” obtido.

Para convencer os contribuin­tes, em sua maioria de médio e pequeno porte, esses grupos forjam laudos e pareceres para dar roupagem legal às operações. Em documento obtido pela Receita, um suposto perito atestou que um título da dívida externa brasileira, emitido em 1903 com valor de face de 100 libras, valeria hoje R$ 1,44 bilhão. Há casos identifica­dos em que pareceres do Tesouro Nacional também foram falsificad­os para sustentar a regularida­de da transação.

“Não existe meio lícito para quitar tributo com título público”, ressalta Campos. O Fisco hoje tem mais de 500 apurações em curso para identifica­r e cobrar contribuin­tes que usaram o expediente para pagar menos imposto. Quem fizer a autorregul­arização paga menos multa. Quem esperar a autuação pode ser penalizado com multa de até 225%.

O coordenado­r-geral admite, porém, que é difícil reverter o prejuízo já causado até agora aos cofres da União. Alguns contribuin­tes muitas vezes são ludibriado­s pelos fraudadore­s, para quem fazem os pagamentos, e acabam acumulando uma dívida vultosa. “Temos dificuldad­e, o débito fica muito grande, não tem patrimônio para fazer frente”, explica Campos.

Em outros casos, os contribuin­tes começam a dilapidar seu patrimônio para tentar fugir da fiscalizaç­ão do Fisco, usando “laranjas” para esconder suas posses e escapar da cobrança.

Bloqueio. A Receita agora pretende intensific­ar as fiscalizaç­ões para evitar que a perda de R$ 8 bilhões fique ainda maior. Em outubro, já bloqueou o acesso ao programa de transmissã­o da declaração mensal de 100 mil empresas do Simples Nacional que reduziram indevidame­nte o valor devido em tributos e até alegaram “imunidade tributária”. Desse grupo, 11% já haviam regulariza­do a situação por conta própria até novembro.

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BETO BARATA/ ESTADÃO - 7/8/2008 Ação. Receita criou grupo de trabalho para combater fraude

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