O Estado de S. Paulo

Catarse, reflexão e folia consciente

Francisco, El Hombre prepara bloco de carnaval Calor da Rua

- Pedro Antunes

Em alguns anos – uns 15, talvez – quando buscarmos referência­s musicais para explicar as mudanças sociocultu­rais de 2015, 2016 e 2017, algumas canções certamente terão um papel importante para refletir a transforma­ção que coloca abusadores nos seus devidos lugares, entre outras questões a serem tratadas em uma sociedade doente. Maria da Vila Matilde, de Elza Soares, lançada em A Mulher do Fim do Mundo, disco de 2015, por exemplo, trouxe à tona a violência doméstica. Triste, Louca ou Má, da banda Francisco, El Hombre, estará entre elas. A canção, trilha da novela O Outro Lado do Paraíso, entrega um canto sobre a liberdade. “Um homem não te define / Sua casa não te define / Sua carne não te define / Você é seu próprio lar”, canta Juliana Strassacap­a, uma das vocalista da banda mezzo-brasileira, mezzo-mexicana, inteiramen­te latino-americana.

O disco de estreia do grupo, Soltasbrux­a, saiu em 2016, mas foi o ano seguinte o definidor para o Francisco, El Hombre. Rodaram o País, em festivais de música independen­te, emplacaram música na novela das 9 da maior emissora de TV brasileira e foram anunciados na programaçã­o do Lollapaloo­za 2018 (eles tocam no domingo, dia 25 de março). Para começar 2018 – ano no qual eles gravam e lançam o segundo álbum, a ser erguido com o apoio do edital Natura Musical –, a banda coloca o bloco na rua.

Chamado Calor da Rua, também nome de uma música que combina com a quentura carnavales­ca, aliás (“eu vou sentir o calor da rua”, diz um verso), o encontro reúne o grupo, a bateria Flor do Asfalto e agitadores culturais da cidade, sob o comando do mestre Jonas Lessa. A estreia será já nesta sexta, 12, no Circo Voador, no Rio. Em São Paulo, o debute será na Casa Natura Musical, dia 24 de janeiro, uma quarta-feira.

O festejo conta com a músicas da banda (como Bolso Nada, Tá com Dólar, Tá com Deus, Calor na Rua e, claro Triste, Louca ou Má) e de outros artistas – o escopo bem variado vai de Caetano Veloso (Vaca Profana) a As Meninas (Xibom Bombom), passando pelo indie dos Porcas e Borboletas (Tá Todo Mundo Pensando em Sexo).

“O que tentamos dar para o nosso bloco é uma intenção de que não é só curtição”, explica Juliana. “A música que tocamos aqui tem uma mensagem. Não é o descarrego descontrol­ado do carnaval, que é algo que eu acho supertóxic­o. Vejo o nosso show como uma parada para extravasar, sair do lugar-comum, mas em um processo catártico, sentir o mesmo fogo e arder junto.”

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NUBE ABE Alalaô. No ano passado, sob outro nome, o bloco atraiu 3 mil pessoas no bairro do Bixiga

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