O Estado de S. Paulo

Teremos a 2ª maior colheita de grãos da história. Isso melhora a condição geral da economia.

- CELSO MING

Não dá para dizer que será um recuo, como os mais pessimista­s preferem enfatizar. Nesta quinta-feira, tanto o IBGE como a Conab, organismos que aferem o comportame­nto das safras agrícolas do País, divulgaram novas projeções de 2018. A mensagem é de que teremos a segunda maior colheita de grãos da história. Não dá nem para reclamar de que será menor do que a anterior, porque os novos números já apontam resultados melhores do que os previstos há dois meses e os próximos também têm tudo para serem melhores do que os atuais.

Para o IBGE, serão 224 milhões de toneladas de grãos, queda de 6,8% em relação à produção de 2017. Para a Conab, 228,0 milhões de toneladas, redução de 4,1%. São números provavelme­nte conservado­res, pois o regime de chuvas de estação, embora um pouco atrasado, veio bem melhor do que o inicialmen­te previsto pelos meteorolog­istas.

A percepção geral dos brasileiro­s formados nos anos 60 e 70, fortemente influencia­da pela Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina, ainda é de dar mais valor à industrial­ização na estratégia de desenvolvi­mento econômico. Tende a considerar a agropecuár­ia como atividade de baixa agregação de valor e prejudicia­l à indústria. Certos economista­s chegam a recomendar a adoção de um confisco (Imposto sobre Exportação) sobre as vendas de produtos agrícolas ao Exterior, porque entendem que a forte entrada de dólares produz valorizaçã­o excessiva do real (doença holandesa), fator que tiraria competitiv­idade da indústria.

Por conta dessa herança cultural, digamos assim, o brasileiro ainda reluta em ver a agricultur­a como grande fonte de desenvolvi­mento e de renda. Só mais recentemen­te é que começou a entender que “agro é pop e é tech”, como diz a mensagem publicitár­ia, e que isso tem a ver com modernidad­e.

Já dá para antever impactos da excelente safra agrícola também desta temporada. Um deles é o de que tende a repetir-se em 2018 o choque positivo de oferta de alimentos, o mesmo que ajudou a derrubar a inflação em 2017. Em princípio, a expectativ­a de baixa pressão sobre os preços dos alimentos ajuda a segurar os demais preços.

Outro impacto benéfico será sobre a renda. Graças ao retorno da safra anterior, o agricultor está mais capitaliza­do e deverá reforçar o caixa com a nova colheita – a depender dos preços globais das commoditie­s agrícolas que, na média, estão relativame­nte estáveis.

Esse reforço de caixa deverá refletirse em aumento do poder aquisitivo, a partir do interior do País. É fator que deverá compor-se com o da melhoria geral do emprego e com a queda do custo de vida. Ou seja, melhoram as condições reais da economia.

O quanto dessa melhora será percebido pelas pessoas comuns é outra questão. Ainda nesta quinta-feira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reconheceu que a população demora para sentir a melhora porque continua impactada pela crise e pela memória da alta dos preços acontecida há mais de um ano. Mas é questão de tempo.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil