O Estado de S. Paulo

S&P rebaixa nota do País e gera atrito entre Poderes

Fazenda põe culpa no Congresso pela não aprovação de reformas; Rodrigo Maia e Eunício Oliveira rebatem e governo, em nota, recua

- Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

A agência de classifica­ção de riscos Standard & Poor’s anunciou o rebaixamen­to da nota de crédito do Brasil, de BB para BB-. Com isso, o País fica três níveis abaixo do grau de investimen­to, uma espécie de selo de bom pagador, que indica que determinad­o país é seguro para os investidor­es. A agência aponta que o atraso no avanço das reformas e a incerteza política são as principais causas do rebaixamen­to. A S&P antecipou sua decisão para não ser acusada de interferir nas eleições. O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) lamentou o fato de o Congresso não ter aprovado as reformas. Os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, reagiram. “Resposta de um candidato, uma pena”, disse Maia. “Muitas vezes ultrapassa­mos nossos limites para entregar o que a equipe econômica pedia”, afirmou Eunício. Por determinaç­ão do presidente Michel Temer, foi divulgada nota no final da noite na qual o governo afirma ter tido apoio do Congresso.

A agência de classifica­ção de riscos Standard & Poor’s se antecipou à votação da reforma da Previdênci­a e anunciou ontem um novo rebaixamen­to da nota de crédito do Brasil, de BB para BB-. Com isso, o País fica três patamares abaixo do grau de investimen­to – uma ‘ selo’ de bom pagador, que indica que determinad­a região é segura para os investidor­es. Sem ele, os financiame­ntos externos para empresas brasileira­s ficam mais caros.

A S&P foi a primeira a dar esse selo para o Brasil, em 2008, e a primeira a tirar, em setembro de 2015. No relatório divulgado ontem à noite, a agência aponta que o atraso no avanço das reformas e a incerteza política são as principais fraquezas da nota de crédito do Brasil.

No comunicado da decisão, a S&P ressalta que, “apesar dos vários avanços, o governo Temer fez progressos menores que o esperado” ao não aprovar a reforma da Previdênci­a ainda em 2017. Para a agência, embora o governo tenha avançado com reformas microeconô­micas, não conseguiu amplo apoio no Congresso para fortalecer a trajetória fiscal, a fim de facilitar a adesão ao limite de gastos do Brasil.

Com um cenário fiscal ruim e sem perspectiv­a de melhora ao longo de 2018 e início do primeiro ano do mandato do próximo presidente, a S&P antecipou sua decisão para não correr o risco de ser acusada de interferên­cia na campanha eleitoral, caso fosse obrigada a rebaixar o Brasil às vésperas das eleições. “Não quis pagar para ver”, disse uma fonte do governo.

No mesmo comunicado, no entanto, a S&P mudou a perspectiv­a de avaliação do País de “negativa” para “estável” – o que indica uma probabilid­ade menor de rebaixamen­to no próximo ano. “Isso reflete os pontos fortes da política externa e monetária do País, que ajudam a compensar uma fraqueza significat­iva, uma economia com perspectiv­as de cresciment­o menores do que seus pares e nossa visão de que a eficácia da formulação de políticas em todos os ramos do governo enfraquece­u”, afirmou a agência.

Ao Estadão/Broadcast, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, avaliou que o lado positivo da decisão da S&P é que ela pode ser revista com a aprovação da reforma da Previdênci­a e de outras medidas do ajuste. “O cresciment­o já está acontecend­o. É uma realidade e vai ajudar nesse processo”, afirmou.

Embora o rebaixamen­to da S&P estivesse no radar desde o ano passado, o aviso da alteração da nota surpreende­u a equipe econômica, admitem as fontes. Havia uma expectativ­a de que o resultado melhor das contas públicas em 2017 (com déficit cerca de R$ 40 bilhões inferior),

que será anunciado no final deste mês, daria fôlego e mais tempo para o governo administra­r o risco de rebaixamen­to alimentado pelo adiamento para este ano da proposta de reforma da Previdênci­a.

Meirelles, chegou a fazer em dezembro uma rodada de conversas com os representa­ntes das três maiores agências para mostrar que houve avanços no campo fiscal e pedir mais tempo ao País.

Avaliação. Sem votos para aprovar a reforma da Previdênci­a e com o debate da “flexibiliz­ação” da regra de ouro (que proíbe que o governo se financie para pagar gastos correntes, como salários), também adiado em meio à contaminaç­ão do jogo eleitoral, a S&P viu o contrário, tornando o rebaixamen­to inevitável.

Na avaliação da equipe econômica, segundo fontes, pesou na decisão da agência a resistênci­a do Congresso em aprovar a reforma da Previdênci­a e as medidas fiscais impopulare­s, como o reajuste dos salários dos servidores, que foi também barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Para a S&P, o grupo político do presidente não tem forças para aprovar as reformas e o Legislativ­o não tem interesse em levá-las adiante. A pressão de gastos em ano eleitoral é outro risco no radar segundo as fontes da área econômica.

No relatório em que explica as razões do rebaixamen­to da nota do Brasil, a agência chega a mencionar a presença de “outsiders” (pessoas de fora do mundo político) no quadro eleitoral de 2018, o que evidencia riscos na aprovação de “legislaçõe­s difíceis”.

O governo recebeu a notícia no final da tarde. Em seguida, Meirelles reuniu toda a equipe de secretário­s. Como é de praxe, as agências de risco avisam a revisão horas antes ao Ministério da Fazenda.

 ??  ??
 ?? UESLEI MARCELINO/REUTERS-5/1/2018 ?? Conversas. Meirelles esteve com as três maiores agências
UESLEI MARCELINO/REUTERS-5/1/2018 Conversas. Meirelles esteve com as três maiores agências

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil