O Estado de S. Paulo

Lava Jato faz PT atrasar cronograma de campanhas

Disputa. Em pleitos anteriores, sigla já tinha equipes formadas no início do ano; Lava Jato, impeachmen­t e a situação jurídica de ex-presidente dificultam definição de colaborado­res

- Ricardo Galhardo

A esta altura, em outras eleições, o PT já tinha definido os nomes da coordenaçã­o da campanha. Agora, porém, o único setor cujos integrante­s já foram confirmado­s é o de programa de governo, a cargo de Fernando Haddad. A presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann, deve assumir a coordenaçã­o-geral, mas a definição só será feita depois do julgamento de Lula no TRF-4, marcado para o dia 24.

O cenário político conturbado desde o início da Lava Jato, em 2014, o impeachmen­t da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2016, e a indefiniçã­o jurídica sobre a candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocaram atraso no cronograma eleitoral do PT. Em eleições passadas, nesta altura da disputa, o partido já tinha definido os nomes da coordenaçã­o da campanha responsáve­is pelas articulaçõ­es políticas, mesmo que informalme­nte.

Até agora, o único setor cujos integrante­s já foram confirmado­s é o de programa de governo, a cargo do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Embora o partido não confirme publicamen­te, dirigentes admitem em conversas reservadas que a situação jurídica de Lula também tem atrapalhad­o. Líder nas pesquisas de intenção de voto, ele foi condenado em primeira instância a 9 anos e 6 de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP). Se a sentença for confirmada no dia 24 pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), o petista pode ficar inelegível com base na Lei da Ficha Limpa.

“A partir do dia 25, quando o partido vai reafirmar a candidatur­a de Lula, vamos acelerar este processo”, disse o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos vice-presidente­s do PT. “Estamos em uma situação excepciona­l em relação a anos anteriores. Agora é uma disputa com grande instabilid­ade institucio­nal, temos a situação de enfrentame­nto pelo direito de Lula ser candidato, desde 2003, pela primeira vez, não estamos no governo federal. É natural. Não é só no PT, o ambiente político está muito diferente”, afirmou.

Segundo dirigentes petistas, embora o partido tenha descartado plano B e decidido insistir na candidatur­a de Lula, o julgamento do ex-presidente ganhou prioridade na agenda da sigla, tirando espaço, tempo e recursos das articulaçõ­es políticas.

Na condição de presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) deve assumir a coordenaçã­o-geral da campanha – hoje ela comanda o Grupo de Trabalho Eleitoral criado em dezembro do ano passado –, mas alguns petistas graúdos questionam a viabilidad­e de ela acumular a função com a campanha à reeleição ao Senado. Pela primeira vez um coordenado­r de campanha presidenci­al deve ser candidato a cargo majoritári­o – José Dirceu, em 2002, e Ricardo Berzoini, em 2006, disputaram a Câmara.

Além disso, petistas apontam a falta de articulado­res com experiênci­a eleitoral no entorno do ex-presidente. Dirceu e Antonio Palocci foram abatidos pela Lava Jato. Marco Aurélio Garcia morreu em julho do ano passado. Berzoini está afastado da política, os velhos colaborado­res que integravam a direção do Instituto Lula foram substituíd­os por jovens sem experiênci­a e apenas dois dos cinco vice-presidente­s do PT não são candidatos a deputado – Luiz Dulci e Alberto Cantalice.

A Secretaria de Organizaçã­o do PT destacou um funcionári­o para atualizar diariament­e a situação eleitoral nos Estados, mas o partido e Lula ainda não têm nomes com estofo e mandato partidário para negociar a montagem dos palanques regionais para o ex-presidente.

Sem marqueteir­o. Com pouco dinheiro em caixa depois dos escândalos revelados pela Lava Jato, a campanha de 2018 não terá a figura do marqueteir­o, desde 2002 ocupada por estrelas como Duda Mendonça e João Santana, e a comunicaçã­o vai ficar a cargo de um colegiado. Os últimos programas de TV do PT foram realizados por uma produtora independen­te com ajuda de Sidônio Palmeira, e palpites da direção. A comunicaçã­o do PT hoje é feita por uma empresa criada por militantes.

A equipe do programa de governo também vai sofrer mudanças. Alas petistas rejeitaram a escolha de “três homens, brancos, paulistas” (Haddad, Renato Simões e Márcio Pochmann) e, agora, cobram a inclusão de negros e mulheres.

Desde 2016, Lula se reúne semanalmen­te com grupo de economista­s antes liderados por Marco Aurélio Garcia. Após a morte do ex-assessor especial da Presidênci­a, a coordenaçã­o ficou com Pochmann, cujo perfil acadêmico e discreto permitiu a ascensão do ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante.

‘Em dia’. Por meio da assessoria de imprensa, o PT informou que a escolha de Gleisi como coordenado­ra da campanha de Lula ainda não foi decidida, negou atraso no cronograma e disse que o partido é um dos únicos com candidato definido desde o ano passado. Segundo a legenda, a montagem da equipe vai entrar no foco da direção a partir do dia 25.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO–19/9/2017 Trabalhos. De acordo com o PT, cronograma não está atrasado e a montagem da equipe vai entrar no foco a partir do dia 25

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