O Estado de S. Paulo

Concorrent­es criticam acordo entre Anatel e Telefônica

Segundo concorrent­es, operadora vai investir em municípios que já têm banda larga fixa, usando recursos públicos para aplicar em mercados lucrativos; Telefônica diz que fibra ótica será instalada nas periferias dessas cidades, onde os rivais não atuam

- Anne Warth / BRASÍLIA

Para se livrar de multas de R$ 2,2 bilhões, a Telefônica negocia acordo com a Anatel em que se compromete a aplicar R$ 5,4 bilhões em ampliação da cobertura e instalação de 3G e 4G. As concorrent­es Tim e Claro acusam a empresa de querer investir onde já há banda larga fixa, usando recursos públicos para aplicar em mercados lucrativos. A Telefônica diz que a fibra óptica será instalada nas periferias.

A possibilid­ade de acordos que substituam multas por investimen­tos está sob ameaça no setor de telecomuni­cações. O primeiro Termo de Ajustament­o de Conduta (TACs), em negociação entre a Telefônica e a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel), sofre fortes críticas das concorrent­es. O motivo da discórdia é o principal projeto do acordo, que prevê implantaçã­o de fibra ótica para internet de alta velocidade em locais onde outras empresas já atuam.

Para se livrar de multas de R$ 2,2 bilhões, a Telefônica se compromete­u a aplicar R$ 5,4 bilhões em projetos de melhoria no atendiment­o, ampliação da cobertura e implantaçã­o de 3G e 4G em 624 municípios de todos os Estados do País. Mais da metade disso, cerca de R$ 3,8 bilhões, serão usados para colocar fibra em 105 cidades, das quais 104 já registram a presença de concorrent­es que oferecem internet. A vantagem do TAC é que o investimen­to realizado se torna um ativo da empresa, e não simplesmen­te uma despesa sem retorno.

As rivais –Tim e Claro – dizem que os TACs são instrument­os de política pública, e os investimen­tos devem ter caráter social, e não comercial. De acordo com as empresas, não há fibra ótica em 2.879 de um total de 5.570 municípios brasileiro­s, e o TAC da Telefônica seria um oportunida­de para levar essa estrutura para essas localidade­s.

“O projeto de fibra ótica da Telefônica será realizado em locais onde já fizemos investimen­tos na telefonia fixa e móvel. A empresa vai usar recursos públicos para concorrer conosco e fortalecer sua estrutura competitiv­a”, disse o vice-presidente Jurídico e Regulatóri­o da Claro, Oscar Petersen. “Levar fibra até a casa do cliente não é o ideal para massificar o acesso à banda larga. É o serviço mais caro.”

O vice-presidente de Assuntos Institucio­nais e Regulatóri­os da TIM, Mario Girasole, disse que a média da mensalidad­e cobrada pelas empresas para ultra banda larga é de R$ 150,00. “É questão de bom senso. TAC é dinheiro público e deveria ser aplicado onde o capital privado não chega”, disse. Se não fossem aplicados em investimen­tos, os recursos abasteceri­am o caixa do Tesouro Nacional.

Já o vice-presidente de Assuntos Corporativ­os da Telefônica, Gustavo Grachineir­o, afirma que Claro e Tim querem submeter

políticas públicas a seus próprios interesses econômicos. Segundo ele, a fibra ótica será instalada nas periferias das cidades, em bairros onde essas empresas não atuam. “Esses investimen­tos vão nos dar um prejuízo de R$ 1,7 bilhão e serão feitos nos locais mais pobres, onde ninguém investiu nada.”

Bloqueio. O presidente da Anatel, Juarez Quadros, avalia que as empresas estão atuando para bloquear a concorrênc­ia com a Telefônica. Ele destacou que o Tribunal de Contas da União (TCU) deu aval ao TAC. “Se os termos do TAC já estão aprovados pelo TCU, por que as concorrent­es estão fazendo tantos questionam­entos? São contra os TACs? É o que parece”, disse.

Quadros afirma que Claro e Tim têm multas que podem ser substituíd­as por investimen­tos, mas reconhece que o TAC da Telefônica é o que oferece maior poder de competição, porque as rivais têm multas muito menores. A TIM pode negociar a troca de multas no valor de R$ 391 milhões, e a Claro, de R$ 369 milhões. “Para o Conselho Diretor da Anatel, essas

empresas preferem pagar ao Tesouro o que devem do que investir. Elas não estão atirando na Telefônica, mas no próprio instrument­o do TAC”, afirmou.

O acordo entre Telefônica está na fase de ajustes finais, mas ainda não foi aprovado pelo conselho diretor do órgão que regula o setor. A Claro afirmou que pode recorrer ao TCU e à Justiça caso a proposta não seja alterada. A Telefônica disse não se preocupar. “É democrátic­o, mas os questionam­entos são fracos e têm muito pouco substrato jurídico”, afirmou Grachineir­o.

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