O Estado de S. Paulo

Economista­s já esperavam rebaixamen­to

Dificuldad­e do governo para conseguir fazer ajustes fiscais e aprovar reformada Previdênci­a indicava, segundo eles, movimento das agências

- Douglas Gavras / COLABORARA­M ALTAMIRO SILVA JUNIOR, SIMONE CAVALCANTI E RICARDO LEOPOLDO, DE NOVA YORK

O rebaixamen­to da nota do País pela Standard & Poor’s, na noite de ontem, não é injustific­ado e já era esperado pelo mercado, segundo economista­s ouvidos pelo ‘Estado’. Eles também acreditam que o movimento pode até ser um incentivo para que os parlamenta­res aprovem a reforma da Previdênci­a, embora achem muito difícil que isso aconteça.

O sócio-diretor da Tendências Consultori­a Integrada, Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, avalia que embora esperado, o rebaixamen­to terá impacto no mercado hoje, porque os investidor­es vinham desde o fim do ano passado com um certo clima de euforia, auxiliado pelo cenário externo favorável. “A percepção é que as chances de aprovação (da reforma da Previdênci­a) são muito limitadas”, afirmou o economista, ressaltand­o que torce para o texto passar no Congresso, mas está pessimista. Além disso, o confuso cenário eleitoral contribui para deixar as perspectiv­as mais complicada­s, conclui Loyola.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a decisão da agência de classifica­ção de risco faz sentido, uma vez que a probabilid­ade de a reforma da Previdênci­a passar no Congresso, mesmo em fevereiro, é muito reduzida. “O mercado, em tese, já era para ter precificad­o que a aprovação não ia acontecer. Por isso, acredito que a reação não deve ser nada muito grandiosa ou intensa”, disse ele, que acredita na votação das regras sobre a aposentado­ria apenas no próximo governo, ou seja, a partir de 2019.

“O rebaixamen­to do País poderia servir, em alguma medida, de incentivo para que os parlamenta­res se atentassem da importânci­a da reforma da Previdênci­a, mas o impacto do corte do rating do Brasil deve ser nulo”, diz o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsma­n. “A reforma dificilmen­te deve passar este ano, infelizmen­te, esse bonde já passou. A importânci­a desse movimento, de todo modo, é questionáv­el. As agências de risco são de uma inutilidad­e atroz. Há formas mais eficientes de se medir o risco País”, avalia.

O professor da Universida­de de Brasília (UnB) José Luís Oreiro disse achar curioso que esse movimento da S&P ocorra justamente após a economia brasileira começar a dar sinais de que estava deixando a recessão para trás. “A gente não pode descartar um movimento político, de que essa redução seja usada para pressionar os parlamenta­res para votar pela aprovação da reforma da Previdênci­a em fevereiro, mas esse movimento seria inócuo. Essa crise do Ministério do Trabalho mostra que o governo Temer não tem força para fazer a reforma.”

Lá fora. Também no mercado externo, o rebaixamen­to “era mais ou menos esperado, pelas dificuldad­es para o avanço do ajuste fiscal”, comentou Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs. Para Ramos, a decisão da S&P “deve trazer algum impacto em ativos, como dólar”, mas deve ser por pouco tempo.

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