O Estado de S. Paulo

Os carros do futuro estão chegando

- PEDRO DORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER: @PEDRODORIA PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS O COLUNISTA VIAJOU A LAS VEGAS (EUA) A CONVITE DA NISSAN

Foi a maior CES da história: 180 mil pessoas vieram a Las Vegas tornando a principal feira de tecnologia do planeta o segundo maior evento anual da cidade. Perde, apenas, para o ano novo. Nos hotéis, há quem reclame. É um público diferente. Não joga, bebe pouco. Vegas não está acostumada, mas a feira segue acontecend­o. Em 2018, a CES esteve, definitiva­mente, centrada nos carros do futuro. Presentes desde o primeiro impacto. De longe, bem antes de chegar ao Centro de Convenções, era possível ouvir o barulho de derrapagem dos BMW, numa demonstraç­ão de corrida na pista em frente ao galpão.

A Lyft, concorrent­e da Uber, pôs carros autônomos para quem desejava corridas para certos pontos. Havia um motorista, mas ele não tocava no volante. O espaço dedicado aos veículos foi quase todo o braço norte do grande centro — um terço do lugar. Não estavam só montadoras por lá. Empresas que fabricam lidars — os sensores antes comuns em aviões e que são fundamenta­is em carros que dirigem sozinhos. Intel e Nvidia, fabricante­s de processado­res, voltam-se para este mercado. Google e Amazon disputando espaço na cabine para seus assistente­s digitais por voz.

Ainda assim, o ponto é simples. Em 2018, os veículos com autonomia de nível 2 começam a se proliferar. Os de nível 3 estão chegando. A cultura se transforma no 4.

O Brasil não está de fora. Um dos anúncios feitos durante a feira pela Nissan foi de que seu Leaf chega ao país no ano que vem. É um veículo com autonomia de nível 2 e o carro elétrico mais vendido no mundo. Elétrico puro, não híbrido. Carrega na tomada como o celular ou o notebook. Não leva gasolina. Trezentos mil já estão nas mãos de consumidor­es.

O nível 2 ocorre quando o carro assume uma série de funções do motorista. O computador mantém o automóvel na faixa, está de olho na distância de quem está à frente e atrás e assim regula a velocidade. São carros muito mais seguros, mas não dispensam seres humanos na direção.

O nível 3 é delicado — e há um debate em curso a seu respeito. Tesla e Audi prometem colocar veículos no mercado mundial este ano. Em condições ideais, permitem que o motorista largue o volante. Mas exigem que fique atento – se o sistema detectar risco, ele precisará assumir o volante. A Waymo, empresa da holding Google que produz sistemas de autonomia, diz que pretende começar no nível 4. Acha perigoso permitir que a pessoa se distraia e, ao mesmo tempo, peça atenção repentina. A Ford é outra que pretende pular este degrau.

No nível 4, a autonomia é plena dadas certas condições. Dentro de uma cidade, numa rota conhecida, quando não há chuva. O dono do carro pode se distrair à vontade e tem tempo de assumir quando as condições mudarem.

No nível 5 o bicho vira outra coisa. O aparelho sequer carece de volante.

Até o ano passado, tudo soava um pouco como ficção científica. Em 2018 entramos neste espaço de mistério. Carros que ajudam na direção evitando acidentes passam a se tornar comuns. Estão, até, para chegar ao Brasil. Os primeiros modelos que permitem esquecer o volante estão prometidos para já. E a autonomia real está ali na frente. Do ponto de vista da tecnologia, a menos de uma década de distância. (Se os governos deixarão, se o público vai querer, esta é outra história.)

Tecnologia tem mesmo um quê de mistério. Por duas horas, na quarta, a CES ficou sem luz. A maior feira dedicada ao tema no mundo. Simplesmen­te parou. Nunca o Centro de Convenções precisara de tanta energia. O futuro do transporte está logo ali. E, ainda assim, parece distante. (Só parece).

Carros que ajudam na direção evitando acidentes passam a se tornar comuns

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