Ney Matogrosso canta em monólogo de Darson Ribeiro
Em ‘O Homem Que Queria Ser Livro’, personagem percorre da livraria ao palco, num reencontro com a literatura
Se o riso pode libertar o corpo, no solo de Darson Ribeiro o caminho para a emancipação segue uma via paralela. Seja no jogo de palavras entre livro-livre, O Homem Que Queria Ser Livro, texto de Rubens Rusche que estreia nesta sexta, 12, na Livraria da Vila, persegue a trilha de grandes autores e obras da literatura. Apesar de não ser, propriamente, uma homenagem ao objeto de muitas páginas, a peça apresentada nas dependências da livraria tem clara a paixão pela leitura, explica o ator. “Percebo que está faltando imaginação e sensibilidade no mundo, e vejo que isso está acontecendo porque estamos, cada vez lendo menos”, conta Ribeiro. Seu personagem tem em seu poder muitas possibilidades, conta, bem como sonhos. “Ele cita grandes romances, narrativas e obras que o inspiram, até revelar sua devoção por Dom Quixote.”
Outro aspecto dessa sensibilidade, o ator foi buscar na música brasileira a canção Coração de Luto (1960), do gaúcho Teixeirinha, regravada especialmente para a peça na voz de Ney Matogrosso. “É uma canção muito triste e que foi um enorme sucesso, vendeu mais que Michael Jackson”, diz o ator. De fato, conhecida pejorativamente como Churrasquinho de Mãe, a música narra a morte, precoce, da mãe do cantor, que durante um ataque epilético desmaiou e caiu em uma fogueira. No seu lançamento, vendeu mais de um milhão de cópias, alcançando 25 milhões, números superiores a Michael Jackson e Julio Iglesias, segundo o jornal Notícias de Novo Hamburgo. A música também foi para as telonas em 1967, no drama homônimo de Eduardo Llorente sobre o episódio trágico e momentos da vida do cantor, estrelado pelo próprio Teixeirinha e sua parceira Mary Terezinha.
Na época, a empreitada tinha objetivo de fundar no Sul do País um polo cinematográfico – eles gravaram juntos mais de 10 longas, pela Teixeirinha Produções, incluindo Meu Pobre Coração de Luto (1977), no qual ele retorna ao pesadelo da morte da mãe após sua mulher ser diagnosticada com leucemia. Já na regravação, a capela, Ney preferiu se distanciar de tanta dor que cerca a música. “Eu quis tirar toda mitologia”, afirma em entrevista ao Estado, por telefone. “Sei de todo esse sucesso e aceitei o convite de Darson, mas o fato de cantar a capela também diferencia das outras tantas regravações, muitas delas para o sertanejo.” Questionado se teatro interessa a Matogrosso e se levaria suas performances para o palco, o cantor afirmou que não tem o tempo que deseja. “Tenho vontade, sim, mas a música me ocupa muito. Entre o cinema e o teatro, prefiro o cinema, que tem um dinâmica diferente, já que é só gravar. No teatro, não conseguiria ter essa dedicação de temporada”, diz o cantor que começa a gravar novo álbum este ano, ainda sem título.